quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

REFÚGIO POÉTICO DO HUMANITAS Nº 01 - SETEMBRO/2012

Poemas publicados na coluna REFÚGIO POÉTICO
do HUMANITAS nº 01 – Setembro/2012

A minha amada
Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage
(1765-1805)

Se tu visses, Josino, a minha amada,
Havias de louvar o meu bom gosto;
Pois seu nevado, rubicundo rosto,
Às mais formosas não inveja nada:

Na sua boca Vênus faz morada:
Nos olhos Cupido as setas posto;
Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,
Nela enfim tudo encanta, tudo agrada:

Se a Ásia visse coisa tão bonita
Talvez lhe levantasse algum pagode
A gente, que na foda se exercita!

Beleza mais completa haver não pode:
Pois mesmo o cono seu, quando palpita,
Parece estar dizendo: "Fode, fode!"
.................................
Requinte
Silvia Mota – Escritora – Rio de Janeiro/RJ

Enrola teu pensamento
nos cabelos soltos
dos meus versos
e faça deles a crina
da tua montaria.

Chicoteia cada rima
escondida no silêncio
do meu canto
e rasga a blusa sensual
da minha poética.

Beija as verdades ocultas
nos buracos guturais
do meu corpo
e morda cada palavra
das minhas mentiras.

Encosta teus apelos
na parede nua e crua
da minha inspiração
e arromba as dobras nocivas
dos meus segredos.

Uiva teus uivos todos
na animália exangue
do meu estro solto
e afoga os lumes incendidos
das minhas crepitações.

Afina a ponta do lápis
nas alamedas trôpegas
do meu sentir e, se errei,
reescreva meu poema livre
na cadência das estrelas.
........................................
Última canção
Rodrigo Rocha - Recife – Estudante

Vivendo um grande amor
Sem pensar que isso
Um dia vai acabar
Mas
seja eterno enquanto dure

Isso pode ser apenas o começo
De uma grande história de amor
Ou apenas a passagem
De uma brincadeira...

Mas eu não posso
Estar sem você
Eu não estou tentando jogar
Eu só quero ter

Pois com você eu perco o sono
E a tristeza vai embora
Com você me sinto bem
E eu sou todo seu

Mesmo sendo esta a última canção
E enquanto eles já foram
Você quer ficar aqui?
Nossa música ainda não tocou!
................................................
Sentir saudade...
Perimar Moura - Ilhéus (BA)

Estranho essa coisa de saudade
Principalmente saudade de alguém
Aquela vontade de estar próximo
Ligar, escrever, conversar...
É como se quiséssemos preencher a vida dessa pessoa
Da mesma forma que ela preenche a nossa
É egoísta, insensata, passional, possessiva...
Deixa-nos inseguros, frágeis, expostos...
Causa dor, sofrimento, agonia...
Ou seja, é demasiadamente humana...
Mas também nos faz pensar...
Refletir em como e quanto alguém nos é caro...
O tamanho da saudade traduz algo mais
Dimensiona a imensurável
Retrata o indispensável
Revela uma camuflada certeza
A de que só faz falta aquilo que nos locupleta
Aquilo que nos pertence em desejo
O que nos remete à vontade de sermos dominados
Fazendo permitirmo-nos
Reformulando-nos o substrato
Mudando a lógica do sentir
Sem saudade a vida seria um erro...
Não sentir saudades é a ausência de desejos...
Sem saudade a vida seria morta!
...................................................
Colírios perdidos
Karline da Costa BatistaAracati/CE

Mesmo na sombra de um beijo
Há luz!
Nascem lírios neste refratário epidérmico que me reveste
Lírios de luz.
Tragam-me os cacos: é de mosaicos que se vive.
..............................................
Dama da noite
Rafael Rocha – Jornalista – Recife

Digo a ti minha velha prostituta:
A fazer minha conduta
Respeitar o teu valor.
Nessa história de vida à labuta
Vão chamar-te mais de puta
Quando tu só dás amor.

Mulher, dona e graça da história
Fode no verso e em glória
Cá no meu sonho fugaz.
Mulher a xeretar meus espaços
A vadiar nos meus braços
Quando eu não tinha paz.

Digo: és a vadia mais arguta
Bela e linda prostituta
A marcar o meu amor.
Meu orgulho é ver-te toda puta
De braço dado e na luta
À madrugada onde eu vou.

Mulher, és rainha e és glória
Tens meu nome na história
E por isso eu perco a paz.
Poesia a viver nesses meus braços
A voar nos meus espaços
E a pedir mais, mais e mais.
....................................................
Consulta ao vento
Valdeci Ferraz - Advogado
Caruaru – Pernambuco

Ela segurou minha mão e pediu um beijo
Não com os lábios, mas sim com o olhar
Adivinhara completamente o meu desejo
E aquele gesto fez a minha alma sonhar

Desde então como louco eu sempre vejo
A sua imagem flutuando em meu altar
Ora é deusa, ora é anjo, e logo almejo
Com tal volúpia o seu templo profanar

Porém prudente fui o vento consultar
Já que ele gira o mundo em um segundo
Da terra, do mar, é grande conhecedor

E de sua voz tonitruante pude escutar
Um conselho muito sábio e profundo:
Sede paciente, não brinque com o amor.
...................................................
Amor furtivo
Antônio Carlos Gomes - Médico
Guarujá – SP

Toca Bach a vitrola embevecida
Baila a decoração despreocupada
Fica a gata muda, quieta, encolhida
Ouvindo a música, embalsamada.

Leio meu livro e numa linha perdida
Fugindo ao estudo acompanho a fada
Que sai do piano e nos leva a vida
Secreta, que não pode ser contada.

Nela existe amor que jamais hesita
Em dar tudo sem nunca exigir nada
Nela saem beijos em forma tão catita.
É aí que você, comigo acasalada
Vive este reino da imortal melodia
Que constrói em nós sua escala d’harmonia

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