sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

REFÚGIO POÉTICO - HUMANITAS - OUTUBRO/2012

Poemas publicados na coluna REFÚGIO POÉTICO
do HUMANITAS nº 03 – Outubro/2012

O dinheiro de São Pedro 
Abílio Guerra Junqueiro (1850-1923) 
De tal modo imitou o papa a singeleza
do mártir do calvário
que à força de gastar os bens com a pobreza
tornou-se milionário.

Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
o teu vigário humilde
conversando na Bolsa em fundos da Turquia
com o Barão Rotschild.

A cruz da redenção que deu ao mundo a vida
por te haver dado a morte,
tem-na no seu bureau o padre-santo erguida
sobre uma caixa forte.

E toda essa riqueza imensa acumulada
por tantos financeiros;
o que é a economia, ó, deus! Foi começada
só com trinta dinheiros! 
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Amor estagnado  
Antônio Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP 

 

Amor que não se renova 

Não é amor. 

Não passa de um convívio 

Escravizante. 

Onde o perto consegue simultaneamente 

Ficar distante 

Onde cada segundo torna-se 

Eternidade. 

Na mente o sentimento sobe. 

É a angustia.

A busca que parou em cada momento 

Indizível

Como uma estrela caída do firmamento 

Enterrada 

Presa e afundada ao chão. 

Como carvão 

Que de tão petrificado e duro 

Não faz nem um risco negro. 

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Mulher metáfora

Silvia Mota – Poeta - Rio de Janeiro/RJ 

Busco-te nos componentes do meu sistema,
nas harmonias e vias da minha
anatomia,
nos adereços e endereços da minha beleza
 
 Busco-te nas veias do meu coração,
nas tendências fetais e atuais dos meus anseios,
nos roubos e arroubos das minhas quimeras  
 Busco-te nas vísceras do meu pranto,
nas entranhas estranhas do meu paraíso,
nos rogos e fogos…
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Gostar

Aline Cerqueira – Historiadora - Itaberaba/BA 

Eu gosto de gente
Que me deixa inquieta
Que me faz pensar...
Que me faz buscar...

Gente que me faz olhar
O longe do que está
Na proximidade do meu olhar.
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Fuga à caverna de Zaratustra 
Genésio Linhares – Professor - Recife/PE 

O meu espírito agoniza em solidão.
Uma chaga aberta que nunca cicatriza
Ao ver este mundo sangrando na escuridão
De sua fétida ignorância a poluir toda brisa.

A mediocridade assola e impera. Desrazão.
Loucura dos incautos a beber fantasias
E alucinar-se na lama míope do dragão.
Fera metálica a cuspir chamas vazias.

Que inglória luta! Que angústia de alma!
Não há mais sobre a terra espírito criativo.
Soçobram esquálidos seres carcomidos.

Não há mais tempo para a verdade poética.
Cansei dos homens. Quero Zaratustra vivo
E guardar-me na caverna dos escolhidos.
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Parem, eu confesso, sou poeta. Cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face. Parem, eu confesso, sou poeta. Só meu amor é meu deus,eu sou o seu profeta. Paulo Leminski
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Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia. Federico García Lorca

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