quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A crença em deus é uma muleta psicológica

Texto de Perimar Moura – Ilhéus/BA – Publicado no HUMANITAS nº 11 – Junho/2013 

No dia em que dermos mais créditos a nós mesmos aprenderemos a nos respeitar melhor e o mundo consequentemente melhorará como um todo

Sinto-me muito mais leve desde que deixei de lado o que chamo hoje de muleta psicológica, que muitos chamam de deus. Descobri, sim, que é possível viver sem essa muleta. Continuo na vida a defender a ideia de que o humanista ateu é puramente humanista, pois ele não espera, mesmo que sem querer, mesmo que inconscientemente, qualquer espécie de “recompensa divina”.
Se um ateu faz o bem é única e exclusivamente porque acha o mais correto a ser feito (não quero dizer com isso que todos os ateus são bons ou justos, pois tal como muitos teístas ruins existem ateus ruis).
Descobri que não existem “forças divinas universais que expliquem o desenvolvimento e a evolução humanas”. Tecnicamente a evolução é proveniente de uma mutação genética, mais precisamente um ERRO genético que ocorre de forma ALEATÓRIA, sendo assim não é oriundo de nenhum desígnio divino superior ou inferior ou de qualquer outra esfera que não do acaso puro e simples.
Isso já foi comprovado cientificamente. Não se trata, portanto, de uma opinião pessoal. Mas qualquer pessoa pode refutar dizendo que não se trata desse tipo de evolução, mas sim de outras formas como a evolução do pensamento, dos sentimentos etc. Pois bem, esses tipos de “evoluções” são na verdade frutos da que aqui citei acima, pois, após um organismo sofrer tais mutações ele tende a tentar se adaptar às novas condições a que é submetido pela natureza que o cerca.
Quando esse organismo é bem-sucedido a espécie como um todo tem um sucesso evolutivo. Quando não é bem-sucedido, a espécie pode chegar à extinção. Isso é o que Charles Darwin chamou de seleção natural, falando em linhas gerais. Se pararmos para observar os animais, vemos que todos sobrevivem à sua maneira, cumprem suas funções na natureza e, no entanto, não possuem qualquer tipo de crença, mesmo aqueles animais mais inteligentes e mais próximos da nossa espécie.
O mesmo ocorre com as crianças. Elas nascem sem qualquer conceito religioso e seguem suas vidas como qualquer outra espécie viva. Quando os pais as levam para os templos e igrejas as estão levando para o que considero lavagem cerebral, pois crianças pequenas ainda não têm discernimento para isso. O conceito de uma existência divina, penso eu, conforta apenas quando as coisas vão bem.
Muitas pessoas de vez em quando balbuciam “graças a deus” quando seu time favorito ganha, mas esquecem que do outro lado havia outro time. Será que o deus em que essa pessoa acreditava estava posicionado contra o outro time? O mesmo ocorre em outros setores da vida que não os esportes, e vejo tal frase se repetir, muitas vezes, ou quase sempre, de forma leviana.
Uma amiga disse: “Quero acreditar que o que eu sinto é divino”. 
Pois bem, é exatamente o que acontece. Ela e muitos outros querem tanto acreditar que acabam distorcendo a visão do real e atribuindo tudo que ocorre de bom ao divino e tudo que ocorre de mal ao ser humano. Meu conselho é que acredite mais em nossa espécie. No dia em que dermos mais créditos a nós mesmos aprenderemos a nos respeitar melhor e o mundo consequentemente melhorará como um todo. Para isso só precisamos dar crédito a nós mesmos.
Hoje eu vivo muito melhor sem as vendas que me impediam de ver as coisas com o brilho que realmente têm. Ao deixar de acreditar em um deus passei a ser mais humano, mais simples e mais seguro, sem a necessidade de um bode expiatório para dar vazão às necessidades que eu mesmo poderia tratar. As pessoas que dizem que acreditar em um deus traz conforto eu respondo: muitas vezes esse conforto de que falo não passa de comodismo. 
O mundo vai mais mal do que bem, apesar de ter muito maior número de crentes do que de ateus. Basta olhar as guerras, a quantidade de pessoas com fome, o descaso dos mais abonados financeiramente etc. Se estamos aqui só de passagem, façamos dessa PASSAGEM o melhor que pudermos agora. Nada de deixar para supostas outras formas de existências, pois isso caracterizaria também um descompromisso comodista com “permissividade divina”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário