sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A prostituta respeitosa

Texto de Celso Lungaretti – Jornalista – São Paulo/SP
publicado no HUMANITAS de outubro/2012

Tinha várias facetas a brincadeira que fiz ao intitular um artigo no meu blog assim: João Paulo Cunha é culpado...”, mas acrescentar o subtítulo ...de fazer uma péssima comparação histórica”. Como meu blog tem 651 seguidores, coloquei um título algo chocante, que motivasse os leitores de sites e blogs a abrirem o post. Algo como a célebre capa d'O Pasquim, que trombeteava, em letras garrafais: TODO PAULISTA É BICHA. Quem olhasse com mais atenção, contudo, perceberia a existência de uma ressalva, em tipos minúsculos. A frase inteira era TODO PAULISTAque não gosta de mulher” É BICHA. E por que eu fazia tanta questão de que fosse lido tal texto? Porque, sendo bom conhecedor dos horrores da ditadura Vargas, nunca me conformei com a imagem deturpada que dele têm as novas gerações.
Pensam que o seu papel histórico da década de 1950 foi o que sempre cumpriu, ignorando o período 1930/1945, quando ele não passava de um aplicado discípulo de Hitler e Mussolini. Seu chefe de polícia política, Filinto Muller, uma espécie de Brilhante Ustra da época, foi retratado pelo jornalista David Nasser como um carrasco que mereceria ter sido julgado pelo tribunal de Nuremberg. Já que os jovens esquerdistas de hoje não leem livros como Memórias do cárcere” (Graciliano Ramos) e a trilogia Os subterrâneos da liberdade” (Jorge Amado), tento suprir tal lacuna da melhor maneira possível.
Eu também pretendi, com minhas ironias, reduzir o assunto da moda às verdadeiras proporções. O julgamento do  mensalão”  não mereceu de mim nenhuma abordagem que o levasse a sério, como as da grande imprensa e as dos ingênuos defensores dos réus na web, simplesmente porque não é sério. Trata-se, tanto quanto o fora Collor!, de mais uma shakespeareana  tempestade de som e fúria significando nada”. 
De vez em quando o Brasil pinça alguns personagens para responder pelo que é regra no mundo da política e dos negócios. Ou seja, trata como exceção o que todos sempre fizeram e fazem.
Provindo de nossos podres Poderes, tais cruzadas são de uma hipocrisia nauseante. Fazem-me lembrar o título de uma peça teatral de Jean-Paul Sartre, A prostituta respeitosa...” Sacrificados os bodes expiatórios de ocasião, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.
Então, quem quiser que aplauda ou vaie tal farsa mambembe; ela só me causa tédio.
A corrupção é intrínseca ao capitalismo e, enquanto não atacarmos o mal pela raiz, continuaremos patinando sem sair do lugar.
Eu estava dando um toque do que se sabia antes mesmo do espetáculo começar: Cunha seria condenado. Era a chamada  caçapa cantada”. 
E, como outrora caí numa armadilha da História e levei décadas para me libertar, sou sempre compassivo em relação a quem, inocente ou culpado, esteja purgando os pecados que todos cometem. 
“A prostituta respeitosa” não tem moral para ir tão longe, depois de haver aliviado” para tantos Collors e Malufs. Deixemos a sede de sangue para os vampiros e linchadores.

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