sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O deus cristão está dormindo ou como dizia Nietzsche: "Ele está morto"?

Texto de Ivo S. G. Reis – Campo Grande/MS
Publicado em Janeiro/2014
  Embora a maioria admita que Epicuro acreditava em deuses, há quem defenda que
já no seu tempo ele era ateu, mas disfarçava isso para não chocar o senso comum

Este artigo surgiu da inspiração passada a mim pelo colega Paulo Luiz Mendonça, quando escreveu sobre as vítimas do tufão nas Filipinas, o Hayan. Ao ler sua matéria "Tufão nas Filipinas... Onde estava Deus?", aquilo me pareceu um item de "flash back" com cenas que já havia visto em tantas outras catástrofes iguais ou piores do que aquela, como, por exemplo, as do furacão Katrina e da tsunami do Japão, para citar só dois casos entre os milhares de catástrofes naturais que sempre surgem, provocando destruição e mortes, desde que o mundo é mundo.
E quando surgem, a impressão que dão é que "Deus não está nem aí, porque se aposentou de suas funções, ou estava desatento e não viu, ou estava de férias, ou estava dormindo ou... já está morto" (isso sou eu quem digo, porque não posso pensar de outra forma, por mais que tente). Só pode ser isso, porque se existisse um deus vivo e atuante, não permitiria tragédias como essas. Semanas antes houve outra grande tragédia, um sismo que se manifestou no mesmo país.
Depois de tudo o que ocorreu, causa estranheza que os bispos das Filipinas, país com alto índice de religiosidade cristã, venham a público dizer que "a fé em Deus é mais forte do que o tufão" e ainda deixam esse recado para a população: "Nenhuma calamidade ou desastre natural pode apagar o fogo da nossa esperança". Quanta cegueira, quanta idiotice (ou seria esperteza, para não perder fiéis?)! Se num país cristão como as Filipinas, duas tragédias sucessivas acontecem, antes que os habitantes se recuperem da anterior, como seria se tivesse maioria de outras religiões?
Não venham dizer que nós, humanos, não somos capazes de entender as razões desse deus, porque é pura balela, mantra cristão para justificar a “fé inabalável” (tem de ser mesmo). Com muito menos poderes do que "Ele", fomos capazes de prever com antecedência o que iria ocorrer nas Filipinas, mas não tínhamos meios e nem tempo para evitar. Se nós sabíamos, "Ele" também sabia. Por que não desviou a rota do furacão ou fê-lo dissolver-se? Não pôde? Ou será que não quis? Ou simplesmente: não existe?
Refletindo sobre tais tragédias, chega a mente, com uma nitidez que salta aos olhos do mais idiota dos homens, o Paradoxo de Epicuro, filósofo grego do século III antes da Era Comum: 
"Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos deus?" 
Epicuro não chegava a declarar enfaticamente a sua descrença em um deus e até, diz-se, acreditava que pudesse existir um. Apenas não admitia que "deus", se existisse, possuísse as qualidades que lhe são atribuídas, achando que "era justamente através da observação do problema do mal, ou seja, da presença do sofrimento na Terra", que lhe permitiria concluir que os deuses, nenhum deles, (Epicuro era grego, da época em que predominava o politeísmo) não poderiam estar preocupados com o "modus vivendi" ou com o bem-estar da humanidade, principalmente o mais poderoso deles, onisciente, onipresente e onipotente, além de justo e bondoso.
Pelo bem da verdade, embora a maioria admita que Epicuro acreditava em deuses, há quem defenda que já no seu tempo ele era ateu, mas disfarçava isso para não chocar o senso comum.
Ateu ou não, o que importa é que o seu paradoxo, de fato, um "trilema", jamais pôde ser contestado, até hoje.
Cristãos, como sempre, acham que Epicuro não tem razão e que suas conclusões estão erradas. Mas só "acham" porque, ao tentar contestá-lo, se esborracham.
Fatos podem ter diferentes interpretações - e os crentes são mestres nisso -, mas não podem ser negados. 
Se você é cristão, responda: por que seu deus não evita essas mortes por tragédias e catástrofes naturais e por que permite a guerra, as atrocidades e a maldade existente no mundo? Vai contestar Epicuro? Tente!

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