quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Refúgio Poético

Poemas publicados no HUMANITAS nº 12 – Julho/2013


Caminho das pedras 
Rafael Rocha – Recife/PE 

No caminho das pedras
Escrever é um culto
Aos deuses dos vazios
Dos sem limite a ser.
Um verso claro e duro
Sempre busca abrigo
Mesmo o inimigo
A sepultar o ritmo
Do prazer.

O verso livre existe
Germinado em pedras
Maciço potentado
Liberto e sem raiz
De futuro e de passado.
Faz do amor verniz
E na madeira bruta
É desabrido e ousado
Deixando cicatriz.

Escrevo nas pedras
Marcando o caminho
De todas as origens
Seja em guerra ou em paz
Retratadas nas heranças
De todas as viagens
As palavras voam
E os versos soam
Todos imortais.
................................................. 
A tatuagem 
Antonio Carlos Gomes – Guarujá/SP 

Fez a tatuagem...
Era um quadro erótico
Numa simples rosa
Errática

Andando junto ao mar.
A brisa e seus sentidos
Neste filme pornográfico
De mulher
Desejante
Talvez o altar
Apenas amar...
O quadro mulher
Sentada na areia
A rosa e a sereia
Cantando amar
Valsando no dia
Imaginando o luar.
..................................... 
Amor perfeito 
(Tributo a Luiz Gonzaga) Arnóbio Marrocos – Recife/PE 

Como é bela a natureza
Repleta de inebriantes paisagens
Nela se vê simplicidade e beleza
É indescritível: parecem miragens.


Vejo escondida entre as nuvens: a lua.
De quando em vez se derramando sobre o mar.
Seu reflexo é doirado. É beleza despojada e crua.
Em minha rede pego a viola e começo a cantar


Não estou só. Estou com minha morena. É ela
A minha fonte de inspiração.
Falo bem baixinho: Como é tão bela!
E sinto o fogo ardente da paixão.


Abracei a morena e fiz o que devia ser feito:
Coloquei a viola de lado e não dei trégua.
Então se fez a foto do amor perfeito
E diante de tanta exuberância
lavei a égua. 

.....................................
Criação
Valdeci Ferraz – Caruaru/PE 

Ouvi os gritos saindo debaixo das asas de pedras
 Clamando pela liberdade de um poema qualquer,
Como divindades espalhadas por intensas selvas
Queriam apenas navegar no dorso de uma mulher,

Ou então formatar a emoção de um desejo frustrado
Ou atenuar a dor de um coração partido,
Poderiam se insinuar entre velhos camaradas
Ou mesmo cavalgar sobre um tango esquecido

Propuseram povoar velhos teatros,
Espirar no último suspiro de um criminoso
Ecoar nas catingas, nas vilas, nos átrios,
Navegar sobre as ondas de um mar tenebroso.

Imploravam pelas mãos carentes dos poetas,
Indiferentes aos uniformes estabelecidos,
Tinham sede de sangue, suor e cerveja,
Pois sem elas os homens serão esquecidos.

Uma a uma foram se libertando
E preenchendo as lacunas de uma noite fria,
Irromperam pela madrugada adentro
Tecendo um painel para saudar um novo dia.

Finalmente se deitaram sobre os versos
Deixando-se possuir por seus fiéis amantes
E depois como os homens mais perversos,
Recolheram-se; tudo voltou a ser como antes.
..................................................
Compacto 
Victor Hugo de Vasconcelos – Recife/PE 

Quando bem quer satisfaço tua ânsia
se estás diante do escuro te dou o morcego
se estás diante do caos te dou o sossego
se queres liberdade te dispo a infância
se queres vaidade forneço-te o apego
é só uma troca, não há distância
fazes o que peço na chegada hora
não saberei se dói nem se chora
não saberei se te serve mais esta ganância
dai-me a alma sem relutância
faça antes e faça agora!
Sinta chegando o fervor e a constância
o que era de princípio interno se possui por fora
jaz cedo teu corpo em tarda hora
e fica tua mente perdida em ignorância.

......................................
Noite 
Genésio Linhares – Recife/PE 

A noite como lâmina corta o dia
Como o sonho interrompe a simplória vida
Alimentando-a de esperança e poesia.
O dia é belo, mas a noite mais querida.

Um sol tudo clareia, a noite escurecida
Tem pletora de estrelas, tem mais magia
Bilhões de sóis a admirar. Envaidecida
A noite fica quando há lua e alumia

A face dos boêmios, poetas e casais
Prateando o amor, inspirando novos cantos.
A noite é dos bêbados profetas e mais

Das mulheres sensuais prontas às orgias
Dos mistérios de Baco e vinhos de encantos
A aquecer corpos e almas em noites frias.

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