quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Refúgio Poético



Poemas publicados no HUMANITAS nº 15 – Outubro/2013


Moça na janela

Antonio Carlos Gomes – Médico - Guarujá/SP

Pela manhã
A moça na janela
Esperava ele
Eu olhava pra ela.

À tarde
Ainda na janela
Esperava ele
Eu olhava pra ela.

À noite,
A moça fechou a janela,
Foi sonhar com ele
E eu sonhei com ela.
................
Asas libertas
Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE

As aves do caminho de agora são negras
Tais como o silêncio espacial ao redor
Onde o último ser humano adormeceu
Na insone incapacidade de amar.

Homem: de joelhos elevou a voz ao céu
Bradou ao deus esperado no seu tempo
Do céu desse deus caiu apenas o nada
Tornou-se real no caminho da sua visão

E o homem:

Bastou perguntar o que era o nada visto
Para descobrir o tudo dentro de si mesmo
E viver e recomeçar em cada paisagem
Como pó de areia incriado no espaço.

E as aves do caminho
Melhores que os homens
Voam e voam e voam
Asas libertas do nada.
................

O Recife

Robson Sampaio – Poeta – Recife/PE

O Recife não é uma aldeia
O Recife é um estado de ser...
Suas luzes naturais ou artificiais
Não são luzes e, sim, o alumiar
Dos teus olhos.

Reflexos de todos nós
Recifenses ou arrecifensados,
Onde as luzes não são luzes.
Mas olhos debruçados sobre
O Capibaribe, um traço indivísivel
De ser o Recife...
................
Quando não se escreve
Genésio Linhares – Professor – Recife/PE

Há quantos anos eu não pego da pena?
Criei um silêncio monstruoso dentro em mim
Muitas vezes me indaguei: ainda vale a pena
Esta vida vazia que carrego assim?

Mais pareço um demiurgo morto e sem arte
Meu espírito como chama enlanguescida
Me tornava dia a dia um ser fazendo parte
Desta unanimidade fria e enlouquecida.

Hoje parei a refletir sobre tudo
Vi o tempo me consumindo lentamente
E me perguntei: o que fiz finalmente?

Só então percebi a dor do verso mudo
Poemas da vida se foram como o vento 
E o meu lânguido olhar só e sem alento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário