quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Refúgio Poético



Poemas publicados no HUMANITAS nº 16 – Novembro/2013
Cisco
Rafael Rocha – Jornalista – Recife/PE

Vendo a fumaça fazer suas espirais
Enchendo o copo com cerveja à borda
O poeta sente a imbecilidade da horda
Dos hipócritas vazios e débeis mentais.
Inexpressivas gentes! Pessoas ocas!
Ratos esperando abandonar o navio!
Dizem-se saudáveis e são todas loucas!
Pedras musguentas às margens do rio!

Ai de mim! Ai de todos os pensadores!
Ai daqueles a conviver com tais senhores
Amantes da mentira e de um deus adoradores.
Ai de mim! Adoraria ser agora um corisco
Para afastar do corpo com apenas um risco
Tanta gente oca! Tirar do olhar o cisco!
..........................
No silêncio etéreo
Genésio Linhares – Professor – Recife/PE

No silêncio etéreo desta madrugada
Lentamente alço vôo para a compreensão
Do que sobra de mim da breve jornada
Donde o tempo meu inimigo e ilusão

Imagino-me desbravando o ser e o nada
Num afã infinito a obter razão
Desta minha existência atormentada
Em angústia, dor e intensa solidão

Mas o porquê de tudo nunca tem fim
Se há solução, está no mundo do além
E independe da minha e tua vontade

Ou é fruto do humano imaginário sim?
E assim, nosso existir aqui se detém
Tudo o mais é sonho. Eis a crua realidade.
............................
Amor solitário
Valdeci Ferraz – Advogado – Caruaru/PE

Minha mão flutua sobre teu corpo
Como um passarinho a procura de repouso.
Meus lábios anseiam os teus
Assim como a flor anseia a carícia do vento.

A escuridão presa no quarto
Ameaça romper as paredes
Para alongar a noite.

Tremores – o sangue
Gemidos – a alma

Mas teu corpo indiferente
Enrijecido pelo sono
Esmaga sobre os lençóis
Meus anseios de homem.

E eis que as paredes se rompem
E me vejo perdido no meio de uma noite
Que parece nunca acabar.
...............................
A palavra
Antônio Carlos Gomes – Médico Guarujá/SP

A palavra
É a pena que escreve
A seta que perfura.
É a mulher que aceita
O ser que rejeita
O homem que acaricia
O guerreiro que ataca
Origem da sociedade
Defesa do humano
Ataque ao inimigo.
O início da guerra
O pranto que molha a terra
A semente que germina
O choro que cria a vida
O suspiro que a termina.
É o som da sociedade
Com vícios e alegrias.
A palavra é nossa vida.
..........................
Os mortos riem
Robson Sampaio – Jornalista - Recife/PE

No Dia dos Mortos, os mortos riem do choro
E das rezas dos vivos, lamúrias perturbadoras
Da paz e do silêncio no Campo Santo.

Os mortos riem tal qual hienas: sorrisos permanentes
Mas os vivos choram e choram,
rezam e rezam, enquanto
Os mortos riem, riem e até gargalham.

Os mortos riem no dia dos Mortos, ou não
Tal qual hienas, sorrisos permanentes: escárnio
Dos vivos-sobreviventes e mortos-vivos
Rotina da vida eternamente.

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