quarta-feira, 27 de maio de 2015

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 – PÁGINA 8

Breviário do perfeito midiota

Luciano Martins Costa - Jornalista
 São Paulo/SP
Transcrito de www.observatoriodaimprensa.com.br

A base que os defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff chamam de apoio popular é formada por cidadãos de perfil extremamente conservador, propensos a acreditar em mitos urbanos e com baixo grau de cultura política. 
Sob orientação do filósofo Pablo Ortellado, da USP, e da socióloga Esther Solano, da Unifesp, dezenas de pesquisadores organizados pelo núcleo de debates Matilha Cultural, de São Paulo, entrevistaram 571 participantes da manifestação de 12 de abril, em toda a extensão da Avenida Paulista. O resultado é estarrecedor. E esclarecedor.
Por exemplo, 71,30% acreditam que Fábio Luís Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, é sócio da gigante de alimentos Friboi; 64,10% acham que o Partido dos Trabalhadores pretende implantar uma ditadura comunista no Brasil; 70,90% entendem que a política de cotas nas universidades gera mais racismo; 53,20% juram que a facção criminosa PCC é um braço armado do Partido dos Trabalhadores; 60,40% acham que o programa bolsa-família só financia preguiçoso; 42,60% acreditam que o PT trouxe 50 mil haitianos para votar em Dilma Rousseff nas últimas eleições; 55,90% dizem que o Foro de São Paulo quer criar uma ditadura bolivariana no Brasil e 85,30% acham que os desvios da Petrobras são o maior caso de corrupção da história do Brasil.
A lista das perguntas permite traçar um perfil muito claro da matriz dos protestos, como preferências partidárias, confiança na imprensa, em partidos  e entidades civis e, principalmente, adesão a teses improváveis que, no entanto, são muito populares nas redes sociais digitais. O resultado mostra, por exemplo, que a maioria (57,80%) confia pouco ou simplesmente não confia (20,80%) na imprensa.
No entanto, o mais alto grau de credibilidade é dado à apresentadora do SBT Raquel Sheherazade, considerada entre os comentaristas políticos: 49,40% disseram confiar muito nela, seguindo-se o colunista Reinaldo Azevedo (39,60% dizem confiar muito nele).
A maioria (56,20%) declarou usar como principal fonte de informação política os sites da mídia tradicional (jornais, TVs, etc.), vindo em seguida o Facebook (47,30%). No campo da imprensa propriamente dita, o veículo em que os manifestantes declaram ter mais confiança é a revista Veja (51,80% confiam muito); entre os jornais, destaca-se O Estado de S. Paulo (40,20%).
Entrevistaram-se manifestantes com idades acima de 16 anos, ou seja, cidadãos aptos a votar. O perfil médio corresponde ao que foi identificado pelo Datafolha: na maioria (52,70%) homens, brancos (77,40%), com educação superior completa (68,50%), idade acima de 45 anos e classes de renda A e B. Apesar de uma tendência a afirmar que não confia em políticos, a maioria declarou considerar, como lideranças mais confiáveis, pela ordem, o senador Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o PSDB, o governador Geraldo Alckmin, vindo em seguida a ex-ministra Marina Silva e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ); José Serra (PSDB-SP) perde para Ronaldo Caiado.
Nada menos do que 73,20% dizem não confiar nos partidos políticos em geral, contra apenas 1,10% que confiam muito e 25,20% que confiam pouco.
Os maiores índices de rejeição vão, evidentemente, para o PT (96% não confiam), seguindo-se o PMDB (81,80% não confiam). A presidente Dilma Rousseff (com 96,70%), seguida do ex-presidente Lula da Silva (95,30%) são os políticos em que os manifestantes menos confiam, seguidos pelo prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad (87,60%). O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conta também com alto grau de rejeição (73,40% não confiam nele).
Os números da pesquisa permitem fazer uma análise bastante clara do recorte da população que saiu às ruas na última manifestação de protesto contra o governo federal. Os participantes são, majoritariamente, eleitores do PSDB, de uma extração específica da população paulista formada por indivíduos de renda mais alta, brancos, com baixa educação política a despeito da alta escolaridade, muitos influenciados por jornalistas comprometidos com a agenda da oposição e propensos a acreditar em rematadas bobagens que proliferam nas redes sociais.
A base popular que o senador Aécio Neves apresenta como fonte de legitimidade para seu projeto de impeachment da presidente da República é a fração mais reacionária de seu próprio eleitorado, primor de analfabetismo político. A maioria se encaixa exatamente na definição do perfeito midiota.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 7

Maioridade penal não vai diminuir a violência
Pedro Rodrigues Arcanjo
 Olinda/PE
Especial para o Humanitas

A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem o objetivo de ajudá-lo a  recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem para que ele não volte a repetir o ato infracional.
Portanto, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade de a pessoa entender que o fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentado em sua maturidade psíquica.
O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação.
O estatuto recomenda que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.
Muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum.
E mais: o adolescente pode ficar até nove anos em medidas socioeducativas, sendo três anos interno, três em semiliberdade e três em liberdade assistida, com o Estado acompanhando e ajudando-o a se reinserir na sociedade.
Não adianta só endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre!
Pelo que sabemos, não existem dados comprovando que o rebaixamento da idade penal possa reduzir os índices de criminalidade juvenil.
Pelo contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe os adolescentes a mecanismos e a comportamentos reprodutores da violência, como o aumento das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70% enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.
A violência não será solucionada com a culpabilidade e punição, mas pela ação da sociedade e governos nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que as reproduzem. Agir punindo e sem se preocupar em discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantém a violência, só gera mais violência.
O Brasil tem a 4° maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil). O sistema penitenciário brasileiro NÃO tem cumprido sua função social de controle, reinserção e reeducação dos agentes da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma escola do crime.
Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais demonstram que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.
Na realidade, são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade.
Dados do Unicef revelam a experiência não teve sucesso nos EUA. O país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência. 
A Constituição brasileira assegura nos artigos 5º e 6º direitos fundamentais como educação, saúde, moradia etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade  do envolvimento com o crime aumenta, sobretudo entre os jovens. O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 6

Estelita versus Puerto Madero
Texto da jornalista Andrea Guerra - Recife/PE
Especial para o Humanitas

Muitos recifenses que visitam Buenos Aires costumam, como todo mundo, se encantar com Puerto Madero, a antiga zona portuária da Cidade, recuperada por uma parceria da iniciativa privada com o Poder Público no início da década de 1990.
Como na zona portuária do Recife, os antigos armazéns estavam sem uso e o bairro, degradado.
Mas as semelhanças param por aí.
Antes de qualquer coisa, a área foi declarada zona de preservação e qualquer intervenção deveria manter intacto o aspecto portuário do lugar, modernizando-o e o integrando à cidade, mas sem destruir a história e o patrimônio.
Em 1991, o Consórcio que recebeu a licença para as obras de revitalização realiza o "Concurso Nacional de Ideias para Recuperar Puerto Madero".
Participam arquitetos de todo o País e, depois de um amplo processo de discussão, sai o projeto que vemos hoje: os velhos galpões transformados em restaurantes, bares, lojas, museus, escritórios, galerias, cinemas - um espaço público, compartilhado por todos, pólo turístico, cultural e de serviços, gerador de emprego e renda.
Um orgulho para os porteños e um exemplo mundial de recuperação para uma antiga zona portuária e histórica.
Muitos dos que defendem essa aberração chamada Novo Recife usam como argumento a falácia de que quem defende o Cais José Estelita quer que a área se mantenha abandonada e sem uso.
Isso não é verdade. Muita coisa boa poderia sair do papel se houvesse compromisso com a história, a paisagem, o patrimônio e o povo do Recife.
Quantos inúmeros usos se poderiam dar ao Estelita, diferente desse estupro urbanístico, de inacreditável mediocridade arquitetônica, que vai entregar aos muito ricos uma das áreas mais lindas da Cidade.
Olhando para Puerto Madero e vendo uma possibilidade do que poderíamos vir a ser, me dá uma tristeza imensa ver o Recife se transformando em uma cidade sem cara, sem identidade, sem alma.
Como bem definiu o consultor e arquiteto Francisco Cunha: apenas uma cidade ruim como outra cidade qualquer.
O Recife não merece isso.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 5

Deus não importa!

O homem e o planeta, sim!

Crônica de Luiz Carlos Rocha Guaratuba/PR


Não diria que sou ateu, nem agnóstico. Apenas isso: deus não me importa. O que me importa são os seres humanos, inclusive o nosso planeta e os demais habitantes deste planeta.
Dito isso, é interessante lembrar que aqueles que acreditam em um deus não são citados pela história como seres humanos pacíficos, tolerantes e bondosos.
Muito ao contrário: sempre que surge uma idade da fé, a morte se espalha pelo mundo.
A denominada guerra santa é uma criação dos teístas-judeus, cristãos, islamitas, comunistas - e não dos ateus. Ateus não costumam fazer guerras santas.
Quando afirmo que deus não me importa, não nego de forma alguma a existência do Invisível. Não diria que sou materialista.
O que reafirmo é que não existe qualquer ligação entre uma possível divindade ou a religião e o Invisível que nos cerca e que não conhecemos ainda.
Não diria, por exemplo, que as fadas são cristãs. Ou que os átomos são judeus. Ou que a kundalini é islamita ou, quem sabe, budista.
Ou seja: o Invisível existe, mas não há nele nada de religioso.
Pretender associar o Invisível ao religioso é repetir um comportamento pré-histórico. Feliz ou infelizmente, estamos no final do século 21.
Ao contrário do que pretendem os teístas, a história fala de ateus pacíficos, grandes estudiosos e amantes da humanidade.
E mostra que os crentes perseguiram, prenderam, torturaram e mataram milhões de pessoas em todo o mundo e em todas as épocas.
Pergunta-se: a religiosidade e a crença em deus tornam os seres humanos mais pacíficos, justos e tolerantes?
Nos países onde o Estado e a Igreja não se separaram (como o Brasil e toda a América Latina) os políticos chegam ao poder ou lá permanecem quando se mostram piedosos, e, especialmente, quando se afirmam tementes a um deus. Ora, a história também mostra que o administrador ou político teísta não é necessariamente melhor do que aquele que não crê.
Pode-se perfeitamente crer em um deus e ser um péssimo político, um corrupto, um autoritário. Mas é verdade que se tem mais espaço, mais poder e conquista-se mais simpatia quando se é teísta.
E em países de mentalidade medieval como o Brasil, se ganha até mais votos. No Sacro Império Brasileiro é preciso ter boas relações com a Igreja (e com deus) para ser politicamente vitorioso.
Alguém pode ingenuamente dizer que países comunistas não são religiosos e ainda assim fizeram e fazem perseguições contra aqueles que discordam de suas regras.
Eu afirmo que a extinta União Soviética nunca deixou de ser um país religioso. Nele a religião mudou de endereço e o Estado substituiu a Igreja.
Exemplo disso é que o comunismo adotou o culto da personalidade e manteve a múmia do santo Lênin em Moscou para ser devidamente adorada. O comunismo é tão religioso que está cheio de dogmas.
E, até prova em contrário, não existem dogmas para os ateus: o dogmatismo é uma das características básicas de toda religiosidade. O fanatismo é outra característica daqueles que têm fé e não dos ateus.
Afirmo que a crença em um deus é interesseira. Ora, quem acreditaria em um deus se essa crença não lhe fosse útil? Todas as religiões dizem algo que pode ser resumido assim: comporte-se bem agora e mais tarde sua recompensa virá em dobro.
Pergunto: por que tratar com reverência uma divindade que trabalha com juros? Os banqueiros também trabalham dessa forma e não são bem vistos.
Estamos nos preocupando há milênios com um deus único, misto de general, juiz e censor. Resultado: alguns religiosos afirmam conhecer a vontade divina nos seus mínimos detalhes e exigem ser ouvidos, por bem ou por mal.
A fé não quer evolução, liberdade e companheirismo entre os homens. A fé é reacionária: os fiéis pretendem conhecer a resposta para todas as dúvidas que temos na vida.
A utopia é que busca respostas! Possibilidades! O utópico quer um tempo novo e tenta criar condições para que este tempo surja, agora ou no futuro.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 4

Amputados não devem esperar por milagres

Roelf Cruz Rizzolo – professor de Anatomia Humana
da Unesp-  São Paulo/SP

Um dos desafios da ciência para as próximas décadas será regenerar membros e órgãos amputados ou lesados. Não apenas mãos, braços e pernas, mas rins, coração etc.  Esse tema, curiosamente, além do aspecto científico é um prato cheio para atiçar o debate religioso.
Ora, se os religiosos dizem que Deus intervém operando milagres para remover tumores malignos, fazer cego enxergar, o mar se abrir, mortos ressuscitarem e tantos outros, não haveria motivos lógicos - nem biológicos - para esse deus não promover a regeneração de membros perdidos. 
Mas não importa quantas pessoas peçam, nem quanto elas rezem, nem quão sinceros e devotos sejam; não importa que o amputado seja absolutamente merecedor da graça: o milagre não acontecerá.
E também não importam as palavras da bíblia (e tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis - se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei). Algumas possibilidades justificariam este fato incontestável. O mais simples deles é que não existe deus algum.
O que a ciência tenta entender hoje é por que os mamíferos adultos perderam a capacidade de regenerar órgãos e membros.
Essa capacidade ainda existe em animais simples como as estrelas-do-mar que regeneram braços e em alguns tipos de salamandras, como os axolotes, que podem regenerar órgãos e membros amputados. 
Mesmo os humanos, em períodos fetais, têm ainda alguma capacidade de regenerar membros. Mas em algum momento da evolução dos mamíferos, cicatrizar uma ferida aberta (evitando assim infecções fatais) passou a ser mais importante que regenerar um membro amputado.
Os cientistas observaram que quando perdemos um dedo, por exemplo, os eventos que levam a cicatrizar rapidamente, inibem os processos que poderiam permitir a regeneração.
Esta corrida da ciência tem, como já ocorreu no passado, a pressão da guerra e seus milhares de amputados e conta também com o inesperado.
Alguns avanços surgiram quase por acaso. É o que aconteceu com um grupo de pesquisadores que estudava o tratamento para o lúpus, uma doença autoimune que acomete milhões de seres humanos.
Para os estudos, eles criaram um rato geneticamente modificado, denominado MRL, capaz de desenvolver a doença. Com isso esperavam compreender seus mecanismos genéticos e tentar novos tratamentos.
Para identificar os animais, eram feitos furos nas orelhas. Furo na orelha esquerda, animal MRL; sem furo, camundongo normal.
Dias depois, quando foram realizar experimentos, observaram que todos os animais estavam sem furo. Crendo tratar-se de um equívoco por parte de algum membro da equipe, repetiram tudo, e, para surpresa geral, em poucos dias os camundongos MRL tinham regenerado de novo a orelha. 
O camundongo MRL não apenas regenerava a orelha, mas partes completas do coração quando artificialmente danificado, e até falanges inteiras de dedos amputados.
Atualmente os cientistas tentam identificar qual a sequência de genes envolvidos no processo, e por que eles estão bloqueados, e o que acontece na área da amputação quando eles são ativados novamente.
Além do camundongo MRL, outro grupo de mamíferos que parece guardar o segredo da regeneração é o dos cervos.
Anualmente repetem um ciclo de formação, amadurecimento e queda dos seus espetaculares chifres. Como essa formação tem semelhança com a formação dos nossos ossos, os cientistas querem saber quais as substâncias químicas que promovem esse crescimento e por que o processo pode se repetir com tamanha velocidade a cada ano.
Tanto no caso dos camundongos MRL como nos cervos, a ação de células-tronco parece jogar um papel fundamental. Os cientistas crêem que se as pesquisas continuarem seguindo o ritmo atual, em dez anos partes de dedos e órgãos internos poderão ser substituídos em humanos, e daqui a 50 anos formar um novo pulmão, rim ou braço poderá fazer parte da rotina médica.
Não deixa de ser irônico que o ex-papa Joseph Ratzinger tenha colocado a manipulação genética entre os novos pecados capitais.
Pelo visto, o chefe máximo dos católicos, na época, considerava que Deus realmente tem algo contra os amputados.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 – PÁGINA 3

Refúgio Poético

Amor Ita
Moacir Eduão – Irecê/BA

O amor nasceu,
semente de pedra.
O amor morreu,
pedra cativa.
A dor não conhece a Lua.
A Lua a emotiva.
É que a pedra não ama
o duro amor que a imita.
É que o amor, das pedras difere,
enquanto é uma pedra escrita,
sem o receio de ser duro
o amor não dura
quando a irrita.
O amor é pedra quando fere
e quando fere a pedra é dita,
porque o amor nunca interfere
na dor que o amor jamais evita.
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Intervalo

Antonio Carlos Gomes
Guarujá/SP

Vida:
Intervalo entre a chegada e a despedida.
Espaço do meio,
Não definido
Entre o amor e a solidão...

Começo e fim se cruzam
Na alegria e tristeza.
O pé que se fixa ao solo
É sempre passado,
O outro busca o futuro.

A mente dividida
Entre o antes e o depois
Vê o presente
Apenas como rabiscos no ar...
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HOMENAGEM A POETA VÂNIA MELO

Vânia Melo é a homenageada deste mês de junho. Nascida em Salvador, no ano de 1980, ela possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia e é especialista em História e Cultura Afro-brasileira pela Faculdade São Salvador. Participou de eventos de poesia como o Porto da Poesia, na VII Bienal do Livro Bahia (2005), o projeto Poesia na Boca da Noite (2005), a Praça do Cordel e da Poesia, na IX Bienal do Livro Bahia (2009) e Caruru dos Sete Poetas, em Cachoeira, Bahia (2009). Atualmente leciona Literatura e Língua Portuguesa.
Vânia acredita que existe uma grande necessidade das escritas afirmativas enquanto legitimação da fala de um grupo que algumas forças contrárias ocultam. Na sua vivência como poeta salienta que a partir do momento em que se atribuem nomes para formar grupos, há também interesses de grupos hegemônicos em rotulá-los para julgá-los e, por vezes, depreciá-los.
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CARTAS DOS LEITORES

Sobre o Humanitas de abril! Às vezes, para o presente ser limpo é preciso extirpar qualquer nódoa do passado. Ana Maria Leandro – Belo Horizonte/MG
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Um pequeno grande/jornal que não tem medo de divulgar a verdade. Carlos Campolinni – Lisboa - Portugal
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Belos poemas. Ótimos textos. Crônicas muito especiais. Muito bom! Vera Gomes – Olinda/PE
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Algum colunista poderia escrever algo sobre o que ocorreu de verdade na Guerra do Paraguai? Pedro Ricardo da Silva – Porto Alegre/RS
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Acho que está faltando no Humanitas um espaço para tratar de assuntos relacionados com a vida nos presídios brasileiros. Roberto Arruda Pessoa de Castro – Santos/SP
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Gosto do Humanitas, mas acho que deveria ter fotos coloridas para ilustrar os textos. Maria do Rosário da Silva – Olinda/PE

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 –PÁGINA 2

EDITORIAL

Maioridade penal

A ideia principal da Grande Mídia e do nosso retrógrado Congresso Nacional no que concerne à questão da maioridade penal é simplesmente afastar da sociedade a parcela menos aquinhoada da população. Pretende também com isso fortalecer a indústria da segurança privada em condomínios, shoppings e colocar como alvo preferencial do sistema penal os jovens negros, moradores de periferias e favelas. Chamamos isso de processo de excludência social.
Tais grupos da mídia e determinados parlamentares são defensores de apenas um lado. O lado dos ricos e dos poderosos. Estão orientados radicalmente para aprovar essa lógica punitiva. A lógica deles.
Tem-se de levar em conta que diminuir a maioridade penal é algo que exige profunda reflexão. A verdade é que a Grande Mídia brasileira está banalizando o tema em vez de criar debates reflexivos sobre o mesmo.
A sociedade burguesa influenciada por seus parlamentares retrógrados e por uma imprensa que tem lado para defender clama enlouquecida pela redução da maioridade penal. O cérebro dessa massa burguesa midiota é menor do que uma ervilha, mas se tal fato acontecer e se a lei for aprovada, irá descobrir tardiamente que a criminalidade continuará existindo, e então... Depois disso, a nova campanha será de reduzir para 14 ou 10 anos.
Tal fato se acontecer na sociedade brasileira vai provocar algo muito mais complexo. Nosso quadro carcerário não  mostra números otimistas, porque o Estado não se volta para o trabalho de ressocialização dos detentos.
Hoje o Brasil concentra a 4ª maior população carcerária do mundo com mais de 500 mil presos, fato que tenderá a crescer se a proposta de maioridade penal for aprovada. Então, o que chamamos de escola do crime (interior dos presídios) irá diplomar jovens e torná-los ainda mais perigosos.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas, assinala o colaborador Pedro Rodrigues Arcanjo em texto de sua autoria neste Humanitas. O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população.
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 Decadência moral, econômica e social dos EUA
Anne Christine Mendes – Olinda/PE - Especial para o Humanitas

O comunicador estadunidense Alex Jones comentou pela internet em The Alex Jones Channel matéria de autoria de Michael Snyder do blog The Economic Collapse que reúne dados e links demonstrando que os EUA são o número 1 do mundo em coisas ruins, quebrando o falso paradigma dos que acreditam que a vida no Primeiro Mundo é uma maravilha, e que ser americano é ser moralmente superior ao brasileiro.
Temos de admitir, porém, que a cultura, a história e os valores morais estabelecidos pelos fundadores daquele país ultrapassam em muito tudo que já conseguimos aqui no Brasil. Mas o americano médio de hoje ignora tudo o que seus antepassados conquistaram com sangue e suor.
O blog mostra 20 itens negativos nos quais os EUA lideram. Alguns devem ser considerados somente quando comparados entre países industrializados, sem mencionar os mais de 20% de desemprego da mão de obra americana.
Nem que quase 50 milhões de americanos vivem atualmente à base de Food Stamps, a bolsa-família do país.
Os Estados Unidos foram desindustrializados pela Nova Ordem Mundial. Sua população não produz mais nada que combine qualidade e quantidade relevantes
A dinâmica da economia daquele país depende, em sua maior parte, do dinheiro virtual que é emitido pelo FED. Por isso, a maioria dos americanos é preguiçosa, imoral, consumista e decadente.
O déficit comercial dos EUA com outros países é negativo para os americanos desde 1976, porque eles não produzem como antigamente.
Ou seja, eles compram do exterior mais do que vendem. Até o dia em que o milagre da multiplicação dos dólares do FED terminar.
Aí eles despertarão para a realidade: de que riqueza que contribui com o crescimento de um país tem de ser conquistada com trabalho, e não através de mágica.

JORNAL HUMANITAS Nº 36 – MÊS DE JUNHO DE 2015 – PRIMEIRA PÁGINA

- Roelf Cruz Rizzolo, professor da Unesp/SP, diz na página 4 que os amputados não devem esperar por milagres
- Jornalista Andréa Guerra mostra na página 6 a aberração chamada Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita
- O jornalista Luciano Martins Costa fala do Breviário do Perfeito Midiota na página 8