sábado, 26 de março de 2016

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA OITO

Primeiro jogo de futebol no Brasil ocorreu em abril de 1895
Especial para o Humanitas
Rafael Rocha é escritor, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

A primeira partida de futebol no Brasil ocorreu no dia 14 de Abril de 1895, na Várzea do Carmo, em São Paulo. As equipes que se enfrentaram foram São Paulo Railway e Companhia de Gás. Os times eram formados por ingleses radicados na capital paulista.
Charles Miller, o introdutor do futebol no Brasil participou deste jogo, integrando o time do São Paulo Railway que venceu pelo placar de 4×2.
Há relatos de outras datas que poderiam ser o início do futebol em nosso país, porém esta é considerada a mais provável, já que até mesmo Charles Miller participou deste jogo. Foi ele que trouxe o primeiro par de bolas e um livro de regras para o Brasil.
O ano de 1874 é o mais citado como o apito inicial do futebol no Brasil: o local foi a praia da Glória, no Rio de Janeiro, para uma apresentação a ninguém menos do que a princesa Isabel.
As datas começam a ser mais precisas no dia 13 de maio de 1888, quando a mesma princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que deu fim a escravidão no Brasil.
 Coincidentemente, no mesmo dia, nascia na elite paulistana o São Paulo Athletic Club, que se tornaria, em 1902, o primeiro campeão paulista. O futebol não era a principal atividade do clube, mas sim o críquete, outro esporte bretão.
O gaúcho Rio Grande, em 1900, foi o primeiro clube criado para a prática do futebol, seguido pela Ponte Preta, de Campinas, no mesmo ano.
Dos clubes de futebol mais conhecidos se destacam pela data de fundação o Botafogo do Rio, criado em 1904, Sport Club do Recife fundado em 1905, Atlético Mineiro criado em 1908, Internacional e Coritiba criados em 1909, Corinthians criado em 1910.
Náutico/PE, Flamengo e Fluminense são mais antigos, mas praticavam outros esportes. Todos esses três iniciaram a prática do futebol um pouco mais tarde.
Muito se fala, mas pouco se sabe sobre a origem do futebol no Brasil. O que é certo é que em 1894 o paulistano Charles Miller trouxe ao país um jogo de uniformes e um objeto esférico inflável, que os ingleses chamavam de ball.
Miller começou a difundir o esporte no país inteiro, tornando-o paixão nacional em menos de 30 anos.
Para muitos historiadores, entretanto, o futebol chegou ao Brasil bem antes de Miller, através de marinheiros ingleses cujos navios aportavam em nossas terras.
A primeira partida de que se tem notícia aconteceu num domingo, 14 de abril de 1895, e antes da virada do século o Brasil já estava apaixonado pelo football. Nasceram, daí, os primeiros clubes.
O primeiro campeonato - o paulista - aconteceu em 1902 e é disputado até hoje. Três anos depois, o campeonato baiano teve sua primeira edição e, no ano seguinte, o carioca debutou.
Assim, os estaduais foram pipocando pelo país: o mineiro e pernambucano, em 1915, e o gaúcho, em 1919.
O primeiro campeonato de futebol em Pernambuco ocorreu em 1915. Terminou sendo considerado um supercampeonato com três equipes classificadas (Flamengo, Santa Cruz e Torre). O Flamengo tornou-se supercampeão ao derrotar o Santa Cruz por 6 x 2 e o Torre por 3 x 1.  
Em 1922, já com a criação de uma entidade organizadora, acontece o primeiro campeonato entre seleções estaduais. Antes, em 1917, o Brasil organiza sua primeira seleção e disputa o primeiro sulamericano, mas não conquista o título.
A profissionalização começa em 1916 ao ser criada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD). No mesmo ano, a entidade se filiou à Confederação Sulamericana de Futebol (Commebol) e à Fifa (Federação Internacional de Futebol). 

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA SETE

O homem como centro do pensamento filosófico
Especial para o Humanitas
Juarez Pedrossiano Goitá  é escritor, poeta e colaborador  deste  Humanitas. Mora em Fortaleza/CE

No Renascimento, a filosofia tomou outros rumos e o mais importante deles foi o Humanismo. Qual seu particular conceito?
O Humanismo foi um período que demarcou a produção literária iniciada no fim da Idade Média, entre o final do século XV e início do século XVI. Trata-se de um conjunto de ideias que valorizam as ações humanas e valores morais (justiça, respeito, honra, liberdade, solidariedade, amor etc). O humanismo renascentista propõe o antropocentrismo, ou seja, o homem como o centro do pensamento filosófico, indo de encontro aos pensamentos da Igreja que cultivava o teocentrismo (Deus no centro do pensamento filosófico).
No final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças (expansão marítima, desenvolvimento do comércio, surgimento de pequenas indústrias, surgimento dos burgueses etc.) e todas essas transformações foram agilizadas pelos humanistas. Eles eram estudiosos da cultura clássica antiga, e foram peças importantes na divulgação de novas idéias, novos conceitos e valorização dos direitos dos cidadãos.
A filosofia desponta como uma atividade renovada, agora com interesse pelos autores da antiguidade clássica como Virgílio, Aristóteles, Cícero e Horácio.
Neste contexto em que surge o Humanismo, a visão antropocêntrica influencia em todos os campos: literatura, música, escultura e artes plásticas.
Na literatura, os autores que exerceram maior influência foram Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro), Boccaccio (Decameron). Todos italianos.
A Renascença representou o renascimento do Humanismo da Antiguidade. Em busca de filosofias e moralidades alternativas às ideias cristãs, que tinham sido universais durante a Idade Média, os humanistas da Renascença estudaram as obras produzidas na Antiguidade Grega e Romana.
Tornou-se uma obsessão o regresso ao passado clássico, à sua arte e cultura, o que influenciou fortemente a educação. Este foi também o período em que a Europa iniciou a sua longa caminhada para a secularização, que conduziria ao afastamento da Igreja dos caminhos do poder. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passaram a dividir o poderio com a Igreja.
O Renascimento ainda viu surgir o método empírico, usado até hoje e que foi fundamental para dar credibilidade à Ciência. Assim, através do Humanismo, o Renascimento contribuiu para a filosofia da época com uma nova atitude em relação à humanidade; uma grande vitalidade intelectual; nova visão do mundo natural; novo método científico que retirou da da religião o controle do conhecimento; e a importância de apreciar a vida ao máximo.
Uma nova etapa do Humanismo surgiu no século XVIII, com a chegada do Iluminismo, que teve as suas origens na Inglaterra, mas que conheceu o seu auge na França. As idéias da Renascença foram aprofundadas e outras mais surgiram como as de François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire. Este filósofo francês (1694/1778) foi o expoente maior do Humanismo Iluminista.
Tendo sido preso aos 23 anos devido aos seus versos satíricos sobre as autoridades, foi libertado com a condição de sair do país. Na Inglaterra, foi influenciado pela liberdade de expressão, tolerância religiosa e racionalidade. Fez da sua vida uma luta constante contra o fanatismo, a intolerância e o abuso de poder, atacando fortemente o poder eclesiástico.
Apesar de não ser ateu, lutou contra a opressão religiosa e a crença dogmática em Deus. Segundo ele, Deus apenas se podia manifestar através da natureza e das leis naturais. Afirmava também que a cegueira e a ignorância faziam com que os homens se perseguissem e se matassem uns aos outros, em nome da religião.
Os humanistas do Iluminismo insurgiram-se contra as velhas autoridades, como a da Igreja e a da aristocracia; defenderam o primado da razão; trabalharam pela educação das massas. Eles ainda acreditavam no progresso cultural e tecnológico; desejavam banir da religião o fanatismo e o dogma; e lutavam pela inviolabilidade dos indivíduos, pela liberdade de expressão, pela justiça, a filantropia e a tolerância.

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA SEIS

A construção do estado ateísta
Antonio Vides Júnior - Jornalista
Extraído de www.ateus.net

A moral cristã é impiedosa com os ateus. Nossa imagem não goza de status social e, invariavelmente, somos considerados estranhos e pecaminosos. É a nossa herança. Revoltadas, legiões de ateus se formam para proclamar sua aversão aos preceitos cristãos e da Igreja. O que é isso? Guerra?
A crença no além está enraizada na sociedade. Não podemos odiar aqueles que creem. Estaremos odiando nossos pais e irmãos.
Mas como vamos combater esse preconceito com a nossa filosofia?  -perguntarão alguns.
Não vamos. Em vez disso, vamos encarar o problema de frente e mostrar a eles que nossa filosofia é, antes de tudo, baseada na humildade.
É difícil ser ateu. Encaramos a morte com olhos aterrorizados. A despeito de todos saberem que ela é inevitável, nós a encaramos como o fim de tudo. Não esperamos nada do além-túmulo. Não estamos indo ao encontro de um deus ou à eternidade.
Quando nos apaixonamos, não esperamos viver no paraíso ao lado de nossas esposas ou maridos.
Tornar-se-á célebre a frase de Ann Druyan, viúva de Carl Sagan, um dos ateus mais respeitáveis desta geração, ao falar da despedida do marido, no leito de morte: Nenhum apelo a Deus, nenhuma esperança sobre uma vida pós-morte, nenhuma pretensão que ele e eu, que fomos inseparáveis por vinte anos, não estávamos dizendo adeus para sempre.
São palavras terríveis, mas as sabemos verdadeiras. A consciência ateísta, quando surge, nos eleva a uma percepção única. Passamos a enxergar a vida como a areia da ampulheta, que escorre inexoravelmente pela fenda. Não importa o quão correta tenha sido sua vida, no fim, a morte reina absoluta.
Pessimista! - gritam alguns frente a essas verdades. Já estamos acostumados. Somos ateus, percebemos nossa limitação.
Somos feitos de carne e osso. Até agora, nem sinal de um espírito. Estamos vazios.
Ora, retire do cristão a promessa da vida eterna. De que adiantaria, então, seguir os passos do deus dele?
A religião está impregnada da relação oferta-procura: Eu sou bonzinho, o Senhor me dá a vida eterna. Sou humilde, por isso viverei para sempre. 
Se a promessa da vida eterna fosse arrancada do homem, este se revoltaria contra deus. Viveríamos num universo burlesco e trágico, onde os crentes tornar-se-iam os ateus.
Ainda assim, é difícil afirmar que a crença em um deus está associada à ignorância. Conheço pessoas inteligentes de todas as religiões. A questão é mais profunda do que isso. Está ligada ao resto de instinto de sobrevivência que temos.
Nossos ancestrais hominídeos eram caçados por animais maiores. Quase sempre, a morte era sangrenta e violenta. Desenvolvemos um medo natural por ela. Tínhamos medo de muitas coisas. Tínhamos medo da escuridão quando o Sol morria no horizonte ou quando as montanhas rugiam, soltando fumaça.
Divinizamos aqueles fenômenos, não podíamos explicá-los, pois éramos pouco mais que macacos desengonçados, aprendendo a explorar suas potencialidades. Chorávamos quando tínhamos que abandonar um parente doente na migração do inverno ou quando os nossos velhos eram expulsos da aldeia por não servirem mais ao trabalho. Não havia enterros nem piedade.
Estabelecemos moradas para os deuses no alto das montanhas e no fundo do mar. Quando subimos ao cume das montanhas e cruzamos o oceano em toscos barcos de junco, empurramos os deuses para outras esferas. Nossos aviões nunca atropelaram um anjo, nunca encontramos um par de chifres enterrados no quintal de casa.
Arrebatados para o céu ou ao inferno, os deuses nunca mais foram acessíveis. Hoje, são vistos apenas em igrejas, por um número seleto de escolhidos que têm a sorte de ver, mas nunca a chance de registrar.
A humanidade tem criado seus pesadelos, mas também tem realizado sonhos sociais, materiais, divinos. Cientistas, no século XX, fizeram mais pela Humanidade (esta sim, com maiúscula) que um deus fez em toda sua história. Empurramos a presença de deus cada vez mais para o fundo do poço. Não rezamos mais para curar as doenças. O papel de deus diminui a olhos vistos. Aprendemos a creditar nossos problemas à nossa incompetência ou ignorância, já não existem demônios a assombrar nossos feitos.
Essa é a verdadeira essência da humildade. Sabermos nosso papel na história do desenvolvimento humano, a consciência do fim cada vez mais próximo. Não há divindade no nosso nascimento, não há milagres no cotidiano.
A revelação da humildade chega ao ateu quando este encara, pela primeira vez, a inigualável sensação de livrar-se da culpa da religião e do pecado natural. Não precisamos de religião para aprender a humildade. Quando encaramos nossas limitações, ela surge naturalmente. Ficamos assombrados pela nossa ignorância e pela impotência frente a todo conhecimento.
Talvez a religião seja um mal necessário. Quando deixarmos de ser julgados pelos crentes, talvez possamos expor nossas ideias com clareza. Neste dia, a humildade poderá florescer entre os homens, fundamentada em princípios humanos, e não em fantasias envolvendo deuses e demônios. Será um tempo, então, onde todos poderão considerar-se irmãos, pois ninguém esperará mais da vida do que seu semelhante.

sexta-feira, 25 de março de 2016

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA CINCO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 2)
Especial para o Humanitas
 Pedro Rodrigues Arcanjo-  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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No ano de 412, Cirilo sobrinho de Teófilo é nomeado bispo de Alexandria. Ele apoia os sentimentos antissemitas difundidos entre os cristãos da cidade e, à frente duma multidão de seguidores, incendeia as sinagogas e faz fugir os judeus. Logo a seguir, encoraja os cristãos a tomarem os bens dos fugitivos.
Hipátia, a última grande matemática da Escola de Alexandria, filha de Theon, é assassinada em 415 da era comum por uma multidão de monges cristãos, sob as ordens do bispo Cirilo. O motivo dessa ação: a brilhante professora de matemática ameaçava a difusão do cristianismo por defender a Ciência e o Neoplatonismo.
O fato de Hipátia ser uma mulher bela e carismática fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos.
Sua morte marcou uma reviravolta: após seu assassinato, pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do Mundo Antigo.
A Ciência retrocedeu no Ocidente e só voltou a atingir um nível comparável ao da Alexandria antiga no início da Revolução Industrial.
Os trabalhos da Escola de Alexandria sobre matemática, física e astronomia serão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e chineses.
O Ocidente, por outro lado, mergulha no obscurantismo, apenas começando a sair dele mais de um milênio depois. Em reconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, Cirilo foi canonizado e promovido a “Doutor da Igreja”, no ano de 1882.
A Idade Média cristã aconteceu entre os séculos V a XV. Com o desaparecimento das grandes bibliotecas a Igreja monopoliza a informação e a escrita. O povo é deixado propositadamente na ignorância, a leitura da Bíblia é desencorajada mesmo no caso de se ter acesso a um exemplar. Pouco a pouco, a Igreja impõe o seu domínio sobre a sociedade.
É nesse período que surgem a Inquisição e o celibato dos padres. O casamento tem de vir antes de quaisquer relações sexuais.
Também é nesse período que nasce uma das mais “grandiosas e famosas” tradições cristãs: “queimar pessoas vivas!” Aproximadamente um milhão de seres humanos se transforma em churrasco durante a Idade Média.
As cidades buscam bater recordes na quantidade de pessoas queimadas por ano. O recorde principal é da cidade de Bamberg, no estado da Baviera, na Alemanha, que conseguiu assar 600 seres humanos num só ano.
Até hoje, muitos integrantes da Igreja lamentam o fim desse período, quando o cristianismo dominava totalmente a vida social.
Relembram com saudade a “espiritualidade” da época, bem como a arte que deu grande ênfase à morte – “assunto apaixonante para os cristãos” - e a música envolvente das catedrais.
Nesse período caótico da história humana começou a ocorrer um crescimento populacional na Europa. A Igreja então propõe um método de controle bem natural, criando as Cruzadas, no ano de 1095.
Em 1099 Jerusalém é “libertada” e logo que os cruzados entram na cidade, o governador muçulmano rende-se, sob a promessa da população civil ser poupada.
Em parte, a promessa foi cumprida (só em 1%), pois a totalidade da população, essencialmente de judeus e muçulmanos, foi passada a fio de espada, não sem antes que os bons cristãos cruzados violentassem as mulheres e decapitassem as crianças. Mais de 70 mil civis foram assassinados.
A última fase do massacre ocorreu nas sinagogas e mesquitas da cidade, onde os habitantes aterrorizados se refugiaram. Eles pensavam que o caráter religioso dos locais pudesse inspirar os piedosos cruzados à mostrarem clemência.
Nada disso ocorre: os cruzados entram e transformam os locais de culto em um mar de sangue. O massacre de milhares de civis amontoados na grande mesquita da esplanada do templo dura várias horas.
Depois de cumprirem e seguirem a ideologia de sua piedosa e amorosa seita cristã os comandantes dos cruzados informam aos bispos e ao papa que “tudo o que respira” na cidade foi morto.

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA QUATRO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 1)
Especial para o Humanitas
 Pedro Rodrigues Arcanjo-  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
 é mera coincidência
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O cristianismo é realmente a única ideologia capaz de dividir com o fascismo e o nazismo o pódio dedicado às ideologias mais mortíferas da humanidade. Infelizmente, até hoje continua sendo a ideologia dominante em vários países ocidentais.
O cristianismo aboliu a liberdade de religião existente no Império Romano e depois juntou milhares e milhares de cadáveres mundo afora.
Os seguidores dessa ideologia massacraram milhões deinfiéis, hereges, feiticeiras e indígenas”, e depois resolveram se matar entre eles próprios, levando a Europa às guerras mais ferozes que o Velho Continente conheceu.
Tal ideologia proclama que só existe um deus e que ele é único, onipotente e amoroso e todos os seus seguidores se consideram melhores que o resto da humanidade, ou seja, melhores que aqueles que não acreditam nesse deus.
Antes dessa ideologia, o Império Romano garantia a liberdade de culto. O paganismo, o ateísmo e a razão dominavam.
Até que determinados setores criaram do nada um sujeito, que, segundo a lenda, resolve fundar uma seita que proíbe o culto de outros deuses, menos o dele. Nessa história, o tal sujeito termina sendo morto numa cruz, mas a seita se expande com êxito.
Nem mesmo Stalin conseguiu superar o culto feito à personalidade do Cristo fundador dessa seita. Esse fundador é proclamado “verdadeiro homem e verdadeiro e único Deus”.
Todas as pessoas que duvidam desse fato mágico são imediatamente chamadas de hereges, sendo perseguidas e mortas. A partir do século IV da era comum, os cristãos começam a matar em massa os não-crentes.
A intolerância religiosa dos cristãos, que visam, desde o início, impor um “único deus”, começa logo a atrair a atenção da justiça romana, que defende a liberdade de culto, um dos pilares dessa sociedade complexa e multicultural que é o Império Romano dos primeiros séculos da nossa era.
A propaganda cristã inverte sutilmente o fato. Os condenados pela justiça romana são declarados “mártires” e começam a ser venerados, inventando-se a lenda de terem sido executados por se “negarem a renegar a fé”.
Essa mentira deu certo. Mas, na verdade, todos esses ditos mártires foram condenados por desordem e por tentarem impor a intolerância religiosa na sociedade romana.
No ano 312 da nossa era comum os cristãos conseguem finalmente tomar o poder, após uma cruenta guerra civil.
O imperador Constantino assume e “ordena”, através do Édito de Milão, o culto do deus único cristão, dando início, assim, à perseguição religiosa na Europa. Aos poucos, o culto dos outros deuses vai sendo proibido.
Os santuários clássicos são destruídos ou transformados em igrejas cristãs.
No fim do século IV, não haverá mais nenhum templo pagão em toda a bacia do Mediterrâneo.
O imperador Teodósio no ano de 380 da era comum proclama oficialmente o Cristianismo como única “Religião de Estado”.
Porém, ainda serão necessários outros doze anos para que todos os outros cultos sejam definitivamente proibidos.
Uma violenta campanha de destruição de todos os templos e santuários não-cristãos é iniciada por Teófilo (que depois é aclamado santo) no ano de 389 com o apoio do imperador Teodósio que o proclama patriarca de Alexandria.
Ele destrói Alexandria bem como os templos dedicados a Mitríades e Dionísio, o templo de Serapis e a famosa biblioteca.
As pedras dos lugares destruídos serão usadas para edificar igrejas para a nova religião única: a cristã.
Depois, demonstrando ser capaz de perseguir também cristãos quando esses não são 100% ortodoxos, Teófilo e suas tropas atacam e destroem os mosteiros que aderiram às ideias de Orígeno, teólogo cristão que foi declarado herege porque afirmava que deus era puramente imaterial.

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA TRÊS

REFÚGIO POÉTICO

POETA DO MÊS

Celso Mendes é médico pediatra, natural de Itapetininga/SP, e residente em Itapira/SP. De acordo com ele, escrever é um hobby. Livro publicado: "Trajetórias", pela Editora Utopia, além de participação na segunda e na terceira Antologia do Bar do Escritor, em Itapira.

Gargalhadas
Rafael Rocha – Recife/PE
Do livro Marcos do Tempo – 2010

Amada, quando a dor bater em tua porta
Tenta lembrar de mim e gargalhar comigo
Recordando os instantes das desditas
Acabadas em anseios gloriosos

Nos teus momentos de escuridão
Recorda a mim e deixa o riso voar
Lembrando quando eu dizia que teus olhos
De tão pequenos eram pétalas de flores desconhecidas

Amada, quando ficares sem meu corpo
Não deixe as lágrimas deslizando na face
Ria, pois a tua risada sempre foi para mim
Uma das ganâncias maiores de minha vida

Em qualquer lugar onde eu ficar, amada
E escutar teu riso cristalino
Estarei dinâmico e buliçoso
E transformado em vento virei rir contigo.

Retorno
Celina de Holanda
Recife/PE - 1915/1999

Este chão é pausa.
Deem-me a infância
para que eu retorne
reencontre meu chão,
seu verde, seus marcos,
seu barro plasmável.

Quero saber de novo
de terreiros limpos
com vassouras verdes

do tempo correndo
branco como um rio,
carregando as roupas
qual nuvens mais alvas.

Massapê das margens,
sapatos de lama,
toalhas de vento
e o regresso limpo,
lento como a tarde.
........................................
CARTAS DOS LEITORES

Não sabia que Chiquinha Gonzaga tinha sido a precursora da marchinha carnavalesca, Ó, Abre Alas. Fico grata ao Humanitas por saber. Marcela Mendonça – Olinda/PE
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Muito bom o texto sobre Dandara, a princesa negra. Valeu mesmo! Henrique Pedrosa – Salvador/BA
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A página Refúgio Poético devia mostrar mais poesias de autores desconhecidos. Marilurdes da Silva – Fortaleza/CE
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Muito bom o artigo de Gabriela Cunha Ferraz sobre Europa e Oriente Médio. José de Arimateia Lemos – Recife/PE
*****
O Humanitas é ótimo! Sandra Regina – Campo Grande/MS

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PÁGINA DOIS

EDITORIAL

O homem primitivo do
século 21

Não há como deixar de observar que existe no Universo certo equilíbrio entre as diversas dimensões que o compõem, incluindo nisso a evolução que ocorre no planeta Terra, a qual se manifesta através de grandes e demorados processos.
O universo não para de se expandir, mas o homem prende-se à ideia de que a criação e a evolução de sua espécie vêm de um deus. Que as maravilhas da natureza são obras de um ser divino, o qual é muito excêntrico, pois ninguém sabe quem ele é, como é, e o que pretende.
Lamentável! Numa época onde a ciência devia estar tão evoluída que o homem pudesse fugir das fantasias de deus, santos e diabos, cada vez mais a raça regride e se entrega às superstições milenares.
Na sua ignorância tribal o homem crê que se um avião caiu no mar e todos seus ocupantes morreram, foi porque um deus assim o quis e nada podemos fazer contra o poder de tal deus.
Ou, se existe fome no mundo essa é uma provação para que o homem aceite o filho de tal deus como a divindade verdadeira e única e acredite que após a morte não mais haverá fome, guerras e desastres aéreos. Acredite, morra e salve-se.
Isso é primitivismo puro! Nenhum deus criador pode ter o luxo de destruir sua própria criação apenas para ser aceito por ela. Mas a mentalidade humana (insuflada pelos governos e pela religião) não aceita a verdade de que um deus desse tipo é uma fatalidade.
O homem deixa de construir um mundo com uma dimensão humanitária, porque acredita em um deus. Abandona suas prerrogativas de transformar para melhor esse mundo para não magoar seu deus, que nada mais é do que sua própria fantasia interior de vida eterna.
E dedica-se a destruir tudo que a natureza cria por acreditar que tal deus é dono dessa criação. Esquece que a mãe-natureza está sempre a evoluir, e que tal ser divino e/ou seus afins é a maior das mentiras inventadas pelo próprio ser humano para usurpar o poder e manipular melhor as pessoas.
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A cura da humanidade passa pelo sexo e a sexualidade
Thomas Henrique de Toledo Stella - Professor Msc. – São Paulo/SP

A cura da humanidade passa pela cura do sexo e da sexualidade. A forma como as pessoas lidam com o sexo na atualidade não é apenas Freud quem explica, mas também as teorias de Karl Marx e Max Weber.
Como ensinou Marx, tudo no capitalismo torna-se uma mercadoria, inclusive o sexo. Assim, quanto mais ele é reprimido pela religião, mais ele somatiza-se como pornografia vulgar, resultando em visões distorcidas da realidade e de como as pessoas lidam com o próprio poder pessoal.
Weber mostrou que o mundo capitalista rompeu o encantamento, a visão mágica, e no seu lugar surgiu um mundo mecânico, lógico e racional.
Aliás, é exatamente o que o funk faz: reproduz este padrão por uma música que não tem harmonia nem melodia, mas que se resume a um ritmo repetitivo, industrial, no qual os jovens que vão aos bailes simulam a colocação de um parafuso em várias porcas, como se estivessem numa linha de montagem de uma fábrica.
Sexo é a energia da vida, da liberdade, do autoconhecimento e o que as religiões patriarcais fizeram foi condená-lo por uma moral criada para controlar as pessoas.
Controlando os desejos, as vontades e as projeções de poder, domina-se as massas.
Em especial quando se reprime qualquer manifestação do sagrado feminino.
Ciente disto, o capitalismo o padronizou de forma falocêntrica, baseado na penetração mecânica de acordo com o script: beijo, penetração, ejaculação, eliminando a sedução, a beleza e o encantamento, os toques, a descoberta dos pontos etc.
Mas nem tudo é perdido: resgatar a magia e o encantamento nos ensinamentos milenares do Tantra e do Paganismo são formas de reconciliar a espiritualidade com a animalidade humana.
A energia sexual quando bem usada é uma poderosa fonte de autoconhecimento e evolução espiritual. Mas não só isto: é a forma mais deliciosa de se experimentar e vivenciar o poder.

terça-feira, 22 de março de 2016

HUMANITAS Nº 46 – ABRIL DE 2016 – PRIMEIRA PÁGINA

Fogueiras! Cruzadas! Terror!

Nas páginas 4 e 5, o colaborador Pedro Rodrigues Arcanjo mostra a nua e crua realidade histórica da ideologia cristã em uma série de artigos especiais. Segundo ele, o cristianismo aboliu a liberdade religiosa existente no Império Romano e depois juntou milhares e milhares de cadáveres mundo afora.

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O jornalista Antonio Vides Júnior diz na página 6 que a revelação da humildade chega ao ateu quando este encara a inigualável sensação de livrar-se
da culpa da religião
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O jornalista Rafael Rocha informa na página 8 que em abril de 1895 ocorreu o primeiro jogo de futebol no Brasil.

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SEXO – SENSUALIDADE - MAGIA

O professor Thomas de Toledo observa na página 2 que “resgatar a magia e o encantamento nos ensinamentos milenares do Tantra e do Paganismo são formas de reconciliar a espiritualidade com a animalidade humana”.  Ele também assinala que o “sexo é a energia da vida, da liberdade, do autoconhecimento e o que as religiões patriarcais fizeram foi condená-lo com uma moral criada para controlar as pessoas”.

sexta-feira, 4 de março de 2016

HUMANITAS Nº 45 – MARÇO DE 2016 – PÁGINA 8

O capoeirista do Recife que morreu invicto
Especial para o Humanitas

Rafael Rocha é escritor, jornalista e editor-geral deste Humanitas. Mora no Recife/PE

Nascimento ficou velho / Seu cabelo embranqueceu / Mas em seu rosto enrugado / Um homem nunca bateu / Sendo assim tão iracundo / Com honras viveu no mundo / Honrado também morreu. (cordel popular)
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O maior capoeirista de Pernambuco de todos os tempos, O Capoeira José Nascimento da Silva ou Nascimento Grande nasceu em 1842 e faleceu em 1936. Sempre foi manchete nos principais jornais do Recife dessas épocas. Ele era um negro com dois metros de altura, possuidor de um longo bigode, gentil, educado, veloz, algo quase que incompatível com a sua estatura física e peso – 120 quilos.
Ganhou o respeito da imprensa da época que lhe concedeu o título de herói, baseado no fato dele só ter brigado durante toda a vida exclusivamente para se defender.
Nascimento Grande era capaz de enfrentar um pelotão policial, brigava, usava as pernas, saltava de banda, escalava muros, e depois procurava o soldado mais fraco da corporação e se entregava.
Ele ganhou a simpatia de todas as classes sociais, inclusive as do meio cultural, não só do Recife, mas de outros estados do Brasil. Era admirado por Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Câmara Cascudo, José Mariano (pai do poeta Olegário Mariano) e Gilberto Amado. Todas essas pessoas que depois ganharam fama, além de o conhecerem pessoalmente estimavam o Capoeira.
Gilberto Freyre chegou a pedir com ênfase ao governo do estado uma homenagem logo que soube do falecimento de Nascimento Grande, aos 94 anos de idade, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 1936.
Ele era um operário do porto do Recife, que exercia a função de estivador, bastante conhecido como portador de uma força descomunal. Poderia ser até mesmo o João Valentão da música de Dorival Caymmi.
Não era religioso, mas costumava parar em frente de qualquer igreja para fazer uma oração aos santos e também frequentava os terreiros de candomblé para consultar os pais de santo.
Quando algum amigo estava com problemas sérios ele aconselhava: - Siga ligeiro pra casa / Vá procurar "Pai João" / Vá fazer o que lhe digo/ Mas também não tema não / Compre maconha e jurema / Faça uma defumação.
A fama de Nascimento Grande despertou curiosidade entre os valentões mais famosos do Brasil: Pirajé (de Belém do Pará), Manezinho Camisa Preta (do Rio de Janeiro) e Pajeú (do sertão de Pernambuco).
Pajeú era o que mais tentava achar uma ocasião certa para desafiar Nascimento Grande.
Vivia a convocá-lo para briga com local e hora marcada. Mas o interessante de tudo é que ambos eram amigos.  Sempre participavam de festa juntos.
A maior e mais violenta briga dos dois, foi marcada com antecedência em frente à igreja do Carmo. O pau comeu durante horas.
Quando terminou a briga entre os dois, Nascimento Grande colocou o parceiro nas costas e o levou banhado em sangue para o hospital.
O Jornal do Commercio do Recife, do dia 20 de fevereiro de 1936 tem reportagem onde se diz que, aos 93 anos, o Capoeira foi até a feira livre de Paraguaçu (MG), e lá comprou um abacaxi a um português dono de barraca. O portuga ao ver como era avançada a idade do Capoeira, colocou um abacaxi com um pedaço podre, enrolou e entregou-lhe na mão.
Quando Nascimento verificou a sacanagem, voltou à barraca do portuga e foi direto no pescoço dele, do jeito que os capoeiristas do Recife da época faziam. Quase que o português morre.
As inúmeras façanhas de Nascimento Grande estão documentadas nos principais jornais do Recife.

HUMANITAS Nº 45 – MARÇO DE 2016 – PÁGINA 7

A prisão de Lupicínio Rodrigues na ditadura militar
Texto original de autoria de José Ribamar Bessa Freire
Extraído do jornal Diário do Amazonas

A Comissão da Verdade não sabe, mas depois do golpe militar de 1964, o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974) foi preso e permaneceu vários meses trancafiado, primeiro no Quartel da Polícia do Exército no centro de Porto Alegre e, depois, no presídio da Ilha da Pintada, apesar de nunca ter tido qualquer atividade política. Lá, foi humilhado, espancado e torturado, teve a unha arrancada para não tocar mais violão e contraiu uma tuberculose agravada pelo vento frio do rio Jacuí.
Quem me confidenciou isso foi um dos filhos de Lupicínio, Lôndero Gustavo Dávila Rodrigues, também músico, 67 anos, que hoje trabalha como motorista na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O fato é pouco conhecido, pois Lupicínio não gostava de tocar no assunto. Preferiu silenciá-lo. Morria de vergonha. “E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou”, cantava ele em “Vingança”, um grande sucesso dois anos antes de sua morte.
De acordo com Lôndero, o pai precisou mesmo de muita coragem e fé para amargar a prisão, onde em vez de tainha na taquara ou peixe assado no espeto de bambu, comeu foi o pão que o diabo amassou. Tudo isso por causa de uma ligação pessoal dele com Getúlio Vargas, relação que acabou sendo herdada, posteriormente, por Jango e Brizola.
Lupicínio, que já era um compositor consagrado em 1950, fez um jingle para a volta de Getúlio Vargas, com aquela marchinha de carnaval de Haroldo Lobo, que foi também gravada por Francisco Alves: “Bota o retrato do velho outra vez / Bota no mesmo lugar / o sorriso do velhinho / faz a gente trabalhar”.
Vargas já gostava das músicas de Lupicínio antes de o compositor ser sucesso nacional. Por isso, decidiu bancar a entrada do compositor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Lupicínio, que havia cursado só até o 3º primário, foi nomeado bedel da Faculdade de Direito, onde trabalhou também como porteiro.
– Um belo dia – conta Lôndero – Lupicínio caiu na farra, virou a noite e saiu direto dos bares para a Universidade. O reitor deu um flagrante nele, quando o encontrou bêbado na portaria. Deu-lhe um esporro, publicamente, humilhando-o na frente de alunos, professores e colegas. No dia seguinte, Lupicínio entrou com um requerimento com letra de samba, que seu filho sabe de cor:
– Magnífico Reitor, que a tua sabedoria e soberba não venha a ser um motivo de humilhação para o teu próximo. Guarda domínio sobre ti e nunca te deixes cair em arrogância. Se preferires a paz definitivamente, sorri ao destino que te fere. Mas nunca firas ninguém. Nestes termos, pede deferimento. Assinado: Lupicínio Rodrigues, porteiro.
Não sabemos se o reitor deferiu o requerimento e a partir de então passou a sorrir ao destino sem ferir ninguém. O certo é que Lupicínio deixou o emprego na Universidade e foi cantar em outra freguesia, em bares, restaurantes e churrascarias, onde aliava trabalho com boemia.
Foi ele, Lupicínio, quem compôs o hino tricolor do Grêmio, do qual era um fanático torcedor, ganhando com isso um retrato no salão nobre do clube.
Depois do suicídio de Vargas, em 1954, Lupicínio, já consagrado nacionalmente, continuou mantendo relações amistosas com Jango e Brizola, que também admiravam sua música. Por conta disso, foi preso e torturado, segundo seu filho.
Autor de grandes sucessos como “Felicidade foi-se embora”, “Vingança”, “Esses moços”, “Nervos de aço”, “Caixa de Ódio”, “Se acaso você chegasse”, “Remorso” e dezenas de outros, Lupicínio compôs “Calúnia”, cuja letra pode muito bem ter outra leitura, quando sabemos de sua prisão e a forma como foi feita: “Você me acusa / Mas não prova o que diz / Você me acusa / De um mal que eu não fiz/ A calúnia é um crime / que Deus não perdoa / Você vai sofrer / aqui neste mundo”.
A letra de “Calúnia”, gravada por Linda Batista em 1958, termina com Lupicínio rogando: “Eu não quero vingança / A vingança é pecado / Só a Justiça Divina / Pode seu crime julgar”.
Mas se prevalecer a letra de “Vingança”, cantada também por Linda Batista e depois por Jamelão, os torturadores da ditadura não terão paz e serão punidos pela Justiça:
Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar”.