sexta-feira, 27 de maio de 2016

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA OITO

Enedina Marques: pioneira da engenharia
Especial para o Humanitas
Juarez Pedrossiano Goitá  é escritor, poeta e colaborador deste  Humanitas. Mora em Fortaleza/CE

Se ainda hoje é difícil para uma mulher construir uma carreira de sucesso, obter respeito e até mesmo concluir um curso superior, o que dizer de uma negra que nasceu no século passado, onde mesmo após a abolição da escravatura ainda se sentia o forte peso da discriminação?
Mulheres, negras e pobres representam 25% da população brasileira.
Isso é um quarto do total de cidadãos do nosso país e vivem, em sua maioria, em condições de pobreza..
Mas, em 5 de janeiro de 1913, nascia em Curitiba/PR, Enedina Alves Marques, filha de Paulo Marques e Virgilia Alves Marques.
Ela venceu todas as barreiras e fez de tudo um pouco para tornar real o sonho de chegar à universidade.
Conseguir seu diploma não foi fácil. A família era pobre e com a separação dos pais, Enedina e seus cinco irmãos mais velhos se dispersaram.
Trabalhou como babá em casa de uma família rica e recebeu o apoio dessa família para seguir seus estudos.
Em 1931 conseguiu concluir a escola normal secundária.
Como professora, Enedina atuou no Grupo Escolar de São Mateus do Sul, de Cerro Azul, Rio Negro, Passaúna e Juvevê, em Curitiba. Mas a universidade ainda era seu sonho.
 Com esse objetivo, fez o curso de madureza no Colégio Novo Ateneu, e ingressou no primeiro curso pré-engenharia da Universidade do Paraná.
Frequentou também o curso preparatório do Colégio Estadual do Paraná.
Em 1940, sentindo-se bem preparada, ingressou no curso de engenharia, onde foi alvo de preconceitos por parte de alunos e professores. Sua inteligência e determinação superaram esses obstáculos e seu carisma pessoal conquistou amigos e solidariedade dentro e fora do curso. Depoimentos desses amigos dizem que Enedina passava as noites estudando, copiando assuntos de livros que não podia comprar.
Aos 32 anos, em 1945, Enedina se forma em Engenharia Civil, sendo a primeira mulher a se tornar engenheira no Paraná.
No início de sua carreira, foi funcionária da Secretaria de Viação e Obras Públicas, onde atuou como engenheira fiscal de obras do Estado do Paraná; foi chefe de hidráulica; chefe da divisão de estatísticas; chefe do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura. 
Atuou no levantamento topográfico da Usina Capivari Cachoeira. Deixou sua contribuição no levantamento de rios, na construção de pontes e na Usina Parigot de Souza. 
Assim ela foi conquistando, aos poucos, o reconhecimento profissional. Com competência liderou peões, técnicos e engenheiros. Gerenciou obras e trabalhos burocráticos. Fez-se respeitar e valorizar. Hoje tem seu nome gravado no Livro do Mérito do Sistema Confea/Crea e sua memória é lembrada no Paraná e no país.
Enedina já foi homenageada em praça pública, e hoje seu nome faz parte da galeria dos paranaenses ilustres. A curitibana deixou registrado seu nome na história do Paraná como a pioneira da engenharia.
Como membro da Associação Brasileira de Engenheiros e Arquitetos do Brasil e Instituto de Engenharia do Paraná, consagrou seu reconhecimento profissional.
Não aceitou os padrões sociais injustos de sua época. Sonhou e ousou. Criou novos paradigmas. Foi uma mulher pioneira.
Em 1981, no dia 20 de agosto, Enedina foi encontrada morta no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, vítima de ataque cardíaco. Morreu sem família e seu corpo demorou a ser encontrado. O Diário Popular, tabloide da época, a retratou de camisola levantada, como se fosse uma mera desconhecida, o que causou a indignação de membros do Instituto de Engenharia do Paraná.
Foi imortalizada ao lado de outras 53 pioneiras no Memorial à Mulher, com uma praça, em Curitiba. A homenagem fez parte da comemoração dos 500 anos do Brasil, promovida pela Prefeitura Municipal de Curitiba e Soroptmist Internacional. A engenheira também empresta o nome ao Instituto de Mulheres Negras de Maringá.

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA SETE

Legítima defesa
Especial para o Humanitas
Ivani Medina é artista plástico e pesquisador autodidata. Mora no Rio de Janeiro/RJ

O islamismo mudou muito de atitude no mundo inteiro, e só não vê quem não quer.
Aqui no Brasil, já não pode ser visto como a religião do comerciante libanês, gente boa que se dava com todos na rua do seu comércio.
A crença daquele senhor afável que almoçava e jogava cartas com outros comerciantes judeus, enquanto outros da mesma origem se matavam no Oriente Médio.
Tudo mudou porque o mundo mudou e muitos comerciantes daquelas ruas de comércio popular, hoje, são coreanos. Mas os coreanos nada têm a ver com isso.
Há anos, refugiados das guerras do Oriente Médio correm pra cá em busca de vida melhor.
Não sei se a minha opinião a esse respeito é estritamente pessoal, no entanto, recebê-los bem, mesmo com as dificuldades de emprego para o próprio brasileiro, me parece quase uma tradição em nossos costumes.
O Brasil é jovem e sabe que foi construído assim, por estrangeiros. Não há de haver um único brasileiro que não os carregue no sangue e, em muitos casos, na consciência.
Farei uma comparação bem simples para mostrar a minha opinião a respeito de uma questão aparentemente complicada e verdadeiramente rumorosa: muitas vezes nos surpreendemos com alguém com quem nos dávamos bem, mas que, por circunstâncias alheias à nossa vontade, mostrou-se mais tarde bem diferente daquela pessoa que imaginávamos.
Onde estava o problema? Com aquela pessoa ou com a nossa imaginação? Ao comentarmos essa experiência com outro alguém, podemos ouvir o seguinte do confidente:
- Ora, fulano sempre foi assim. Desde criança.
Mas nós não sabíamos. Até aquele momento, fato novo algum havia sugerido mudança em nossa opinião. O nosso modo de ver os demais com simpatia nos habituou assim. A tal pessoa se assemelhava em nossa imaginação a tantas outras comuns por aqui. Por isso, nem nos demos conta do indevido apreço.
Contudo, não se trata de uma pessoa a protagonizar esse exemplo, mas a religião do simpático comerciante libanês que também nos parecia simpática por causa dele. O nosso desconhecimento a respeito dela pegou-nos desprevenidos. O fato novo foi que essa religião surpreendeu negativamente o mundo inteiro que a imaginava outra pessoa.
Hoje sabemos quem ela é, mas ela não quer que a vejamos assim. Insiste para que a contemplemos com o nosso olhar antigo, dos olhos da imaginação. Senão é preconceito da nossa parte. Acontece que nesse contexto, preconceito é um conceito que não se renova, e, renovação, é justamente o que acaba de acontecer.
O libanês gente boa e o sírio gente boa etc, continuarão assim. A criatura humana, no fundo, é uma só. O problema é a cultura que eles abraçaram, pois esta não se renova como os conceitos e nem permite que se cogite em seu seio o termo renovação.
E, ideologicamente, o islã não é um abraço de vida, mas um abraço de morte. Basta ler o Alcorão para saber disso, além de acompanhar o noticiário internacional. Enquanto nós temos pelo que viver, os muçulmanos têm pelo que morrer.
Que o islamismo seja mantido sob contenção. Nem que seja intelectual. Essa cultura jamais teve a intenção de se fundir às nossas sociedades ou a quaisquer outras. A fusão é ideia fundamental em um país feito por estrangeiros.
Queremos gente que nos acrescente, não que nos amordace. O islã não é uma simples religião como as muitas que conhecemos aqui e atendem a diferentes costumes. Sua intenção é islamizar, isto é, impor ao mundo as suas leis e costumes medievais em detrimento dos costumes e crenças há muito estabelecidos nas terras de outrem.
O comportamento intencional dessa crença política se compara ao de alguém que se hospedasse em sua casa e lhe dissesse:
- Olha só, achei o meu quarto muito pequeno. A comida também não é boa. Quer saber? Também não gosto do jeito como você conduz a sua família. Em breve as coisas vão mudar muito por aqui. Ah, se vão! Pode apostar!
A Arábia Saudita, inventora do islã, não recebeu refugiados da guerra da Síria e do Iraque ou capitaneou um plano de ajuda substancial, inclusive para o fim do conflito e para zerar o sofrimento daquela gente.
Porém, se ofereceu para construir centenas de mesquitas na Europa. Qual é? Enquanto esse estado líder muçulmano diz para a mídia internacional que combate o terrorismo, juntamente com a Turquia, apoia substancialmente por baixo do pano o maldito e carniceiro Estado Islâmico. São somente hipócritas? Claro que não.
Essa pessoa arrogante, hipócrita, perversa etc, que ainda se faz de boazinha e vítima do mundo ocidental, pode se fazer conhecida aqui no Brasil do futuro próximo, caso não se acorde para tamanha e aberrante realidade. Difundir as manhas desse perigo à consciência nacional, não é discurso de ódio, é legítima defesa.

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA SEIS

Violência contra religiões afro

Sarita Cordeiro – Professora - Salvador/BA
                                                                                                 
Nos últimos anos, as agressões aos terreiros e fiéis das religiões afro se agravaram, e tal cenário continua a piorar sem que medidas concretas sejam tomadas pelas autoridades constituídas.
Numerosos estudos já foram apresentados por experts no assunto e todos revelaram dados assustadores sobre a violência contra os terreiros e contra os praticantes das suas religiões.
Apedrejamento dos espaços, quebra-quebra de imagens e agressões físicas e morais são fatos contundentes, e esse cenário começou a ser delineado nos últimos vinte anos com o crescimento das seitas cristãs neopentecostais, cujos seguidores, seguindo ordens emanadas dos seus pseudos pastores tomam essa atitude criminosa.
É verdade comprovada tudo isso. Os evangélicos neopentecostais bem como aqueles que são vizinhos dos terreiros são os principais agressores.
O pior de tudo é que tais ataques não ocorrem apenas nos terreiros, também acontecem nas ruas e espaços públicos. Claro que a maioria das ações de intolerância teve uma casa de culto a sofrer apedrejamento, pichação da fachada, acusação de ponto de venda de drogas ou de manter menores em cárcere privado. Sem contar com as mais diversas ameaças de perseguição ao proprietário do imóvel.
Em artigo veiculado na revista Carta Capital, Jean Willys, deputado federal pelo PSOL, salientou que essas agressões e os casos de intolerância religiosa se devem à falta de políticas públicas de reconhecimento das religiões afro, assim como da inexistência de punições severas para os que atentam contra elas.
Ele também assinala na reportagem da revista que o assassinato por linchamento no Guarujá (SP), em 2014, da mulher Fabiane Maria, poderia ter sido evitado desde que a ignorância/intolerância não fosse algo tão bem orquestrado pelas religiões neopentecostais. Fabiane foi linchada ao ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças e acusada de praticar rituais satânicos de magia negra.
A difamação e a perseguição que integrantes das religiões afro sofrem por parte de muitos pastores e obreiros neopentecostais são divulgadas em cultos e até mesmo através de programas televisivos. Assim, tais crimes têm relação com a prática da intolerância religiosa.
Nos últimos anos, o pentecostalismo se posicionou de forma muito radical e fundamentalista, o que tem levado a situação de extrema violência contra as religiões afro.
Quando determinado grupo se acha superior a outro no tocante a seguir uma religião, a intolerância entra em campo e, apesar de o Brasil ser um país laico, não se toma nenhuma medida de contenção à violência por parte da polícia e do Judiciário.
Ninguém se engana quando afirma que é o fundamentalismo evangélico neopentecostal que tem levado a essas situações de violência contra outras religiões. Tal tipo de violência é um golpe às diferentes formas de organização social.
É preciso que seja enfrentado com coragem, pois destruir um patrimônio caro à História do Brasil como queimar e destruir terreiro é um crime grave.
Precisamos defender as culturas vindas das religiões afro. Elas foram construídas ao longo de séculos de vivência entre os brasileiros, sendo resultado do processo de colonização, organização e formação do nosso território. Em 1891, a primeira Constituição do Brasil separou a Igreja do Estado, mas foi em 1988 que se conquistou a garantia da preservação e do respeito à livre confissão de fé.
O artigo V, no parágrafo VI de nossa atual Carta Magna diz que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e à sua liturgia.
Intolerância religiosa leva as pessoas a seguirem o caminho do ódio e da violência. A contribuição afro-brasileira à cultura nacional é enorme, e foi um poderoso pilar para os maiores movimentos de resistência contra as tentativas dos grupos dominantes de suprimir manifestações como o samba, o frevo e a capoeira. Hoje, a prática religiosa deste grupo é novamente marginalizada e agredida. Lutemos contra isso!

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA CINCO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 6)
Especial para o Humanitas

Pedro Rodrigues Arcanjo -  Olinda/PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
é mera coincidência
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A cruz e a espada brandidas pelos cristãos tiveram papel especial na subjugação do continente americano. Muitos indígenas foram obrigados a se converter ou a morrer. Vejamos a conversão forçada dos índios Pueblo, ocorrida no fim do Século XVI até o início do Século XVIII.
No território hoje pertencente aos EUA, os exploradores espanhóis, com seus monges, entraram em contato com esses índios ao subirem pela costa do Golfo do México.
As tribos dos Pueblo viviam em aldeias (los pueblos) de casas de tijolos com dois ou três andares, eram pacíficos e praticavam a agricultura, sendo muito diferentes dos demais índios nômades das planícies do Norte e outros indígenas mais combativos, que os espanhóis encontraram no México e na América do Sul
Os Pueblo possuíam uma religião própria. Acreditavam no Pai do Céu e na Terra Mãe, temiam os demônios - os Skinnwalkers -, acreditando que eles andavam pela crista das montanhas ao pôr do sol, bem como veneravam os corvos como reencarnação dos seus antepassados.
Possuíam um rico templo de deuses semelhantes ao dos deuses gregos, sendo o seu deus principal a mulher-aranha. As cerimônias eram celebradas em igrejas denominadas Kivas.
Estes pacíficos índios agricultores logo se tornam objeto de atenção dos padres espanhóis, impacientes por substituir o culto do Pai Céu e da Mãe Terra por aquele de cujo deus se bebe o sangue nas cerimônias.
Por tal motivo resolvem ser piedosos e acusam os pajés índios de bruxaria, ordenando que sejam executados.
Assim, as Kivas são destruídas pelos espanhóis. Os cultos tradicionais dos índios são proibidos, sob pena de mutilação e morte. Se por alguma fatalidade, índios forem surpreendidos a celebrar uma cerimônia tradicional terão braços ou pés decepados.
Porém, apesar dessas ordens cristãs, alguns índios continuarão a realizar seus cultos, em segredo, durante a noite. Os padres católicos usarão esse fato nos sermões, salientando que os índios seguem a religião das trevas, pois os cultos eram sempre à noite
Esqueceram de dizer que no cristianismo - religião da luz – come-se a carne e se bebe o sangue do deus cristão em pleno dia.
Diversas revoltas sangrentas pontuam a cristianização dos Pueblo. Essa perseguição religiosa só cessará depois da anexação do território pelos EUA, em 1847.
Mas, na Europa, as execuções por heresia não param. Em 1600, o cientista Giordano Bruno é queimado vivo em Roma por ter ousado definir o Universo como infinito e admitido a hipótese da existência de formas de vida fora da Terra.
Seu processo durou oito anos, e durante esse tempo lhe são arrancadas confissões, sob tortura, para depois ele ser condenado à morte como herege obstinado e ímpio.
Giordano se defende, tentando mostrar que as suas ideias não estão em contradição com as doutrinas cristãs, mas tudo foi em vão e ele terminou sendo queimado vivo, em público, no Campo dei Fiori, em Roma.
Antes, os bondosos prelados e inquisidores tiveram o cuidado de lhe cortar a língua antes de o enviar ao local da execução, para evitar todo o risco de que as suas palavras emocionassem a multidão que veio assistir ao espetáculo. Seu principal acusador, o cardeal Bellarmino, será mais tarde canonizado e, em 1930, proclamado Doutor da Igreja.
É interessante observar que, no caso de Galileo Galilei (ocorrido no ano de 1633), a Igreja Católica expressou seu arrependimento no fim do Século XX, reabilitando este cientista no ano de 1992, mas nunca se arrependeu da execução de Giordano Bruno. Pelo contrário, se opôs com veemência à instalação duma estátua de Giordano, em 1889. Em 1929, o papa pediu a Mussolini que destruísse essa estátua.
Depois de expulsar os judeus da Espanha, a Santa Inquisição ficou quase sem ter o que fazer e então resolveu caçar os mouros recém-convertidos ao cristianismo.
Em 1609 é lançada a suspeita de que os mouros são falsos convertidos e a ordem é a de executar todos os que se recusarem a beber vinho ou comer carne de porco, ou que sejam limpos demais. O Islamismo, contrariamente ao cristianismo, prescreve lavagens periódicas.
A higiene nunca foi tão perigosa como no Século XVII, na Espanha! A Inquisição consegue do rei a expulsão dos mouros convertidos para o Norte da África. O número dos expulsos é mal conhecido, no entanto, as estimativas variam entre 300 mil e três milhões. Os convertidos expulsos são obrigados a irem para as terras islâmicas, onde o Corão prevê a pena de morte para todos que renegaram Maomé.

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA QUATRO

O terrorismo cristão no mundo (Parte 5)
Especial para o Humanitas

Pedro Rodrigues Arcanjo - /PE

Semelhança com o atual fundamentalismo islâmico não
 é mera coincidência
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As tragédias e as matanças em nome do deus cristão continuam. Era necessário cada vez mais incrementar o medo através do terror e da morte de infiéis, hereges e demais seres humanos que não professavam a ideologia de amor ao próximo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Portugal, que tal e qual a Espanha, era uma nação de carolas e de subservientes a essa ideologia, após incitação feita por bispos e padres, trucidou 3 mil judeus no ano de 1506, no conhecido pogrom de Lisboa,
Vale salientar agora uma frase especial dita por nada mais e nada menos que o papa Júlio II nos primórdios do Século XVI.
Esse representante do deus católico no planeta Terra era um hábil chefe militar e sempre vestia uma armadura quando celebrava a missa.
Ocorreu que um monge disse a ele que o traje não era conveniente e ele respondeu na mosca, com a frase que passou à História. Quando se trata de conquistar terras, deus não faz questão do traje, mas da fé do seu servidor.
Realmente, o bondoso deus católico permitiu, de fato, que ele conquistasse a cidade de Bolonha, que foi, como deveria ser, posta a saque e teve a população trucidada.
Mas não são apenas os católicos nem o papa a fazer das suas estripulias. No ano de 1521, sob a inspiração do divino Espírito Santo (que aparentemente não tinha o que fazer), um monge alemão, Martinho Lutero, traduz a Bíblia do latim para o alemão em algumas semanas.
Logo após essa realização milagrosa ele é tentado pelo demônio e para se defender lança sobre o chifrudo um tinteiro, que suja a parede.
Essa mancha está religiosamente preservada para os turistas no castelo de Wartburg.
Assim, Lutero consegue inaugurar o maior cisma da cristandade. Durante os séculos seguintes, os cristãos vão se massacrar mutuamente com mais entusiasmo do que quando matavam e queimavam os não-cristãos, os hereges, as bruxas, os judeus e muçulmanos convertidos.
Martinho Lutero, em seus escritos, salienta com veemência a necessidade de queimar as sinagogas e escorraçar os judeus das cidades. Portanto, manteve a tradição piedosa da Igreja Católica, que terá continuidade até o Século XIX através da Santa Inquisição e depois no século XX, através dos seguidores de Mussolini.
No ano de 1527, os protestantes entram em ação e saqueiam Roma. A população romana (umas 40 mil pessoas) é massacrada. A cidade sofre grande pilhagem, mas o papa é salvo pelos guardas suíços. Os suíços ganham assim fama profissional no estrangeiro, perpetuada até hoje.
O poder religioso cristão sobre o homem e a mulher vem através do terror, não importa que seja católico ou protestante, o medo é a arma fundamental.
No ano de 1553, o livre pensador e médico Michel Servet, descobridor da circulação sanguínea, é considerado blasfemo e torna-se um dos 15 hereges a ser morto pelo líder protestante João Calvino, ditador de Genebra.
Para justificar essa execução, Calvino declarou em livro e em atas que não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, será para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória.
Calvino proibiu os jogos, as danças, as músicas e o canto que não estivessem ligados à igreja protestante, e seus adeptos, bem como os suspeitos de bruxaria eram queimados vivos nas fogueiras.
As guerras religiosas incendeiam as cidades, matam seres humanos para que aceitem a palavra de um ou de outro lado. Católicos e protestantes se digladiam em nome do deus único na França entre 1547 e 1593. Acontece uma guerra civil sem limites de crueldade que é interrompida, às vezes, com algumas tréguas temporárias.
Durante uma dessas tréguas, teve lugar em uma só noite, em Paris, o massacre de 20 mil protestantes, homens, mulheres e crianças. Noite que ficou inscrita na história como a famosa Noite de S. Bartolomeu ou Matança dos Huguenotes (24 de agosto de 1572). 
Antes, em 1571, logo após o surgimento da imprensa através de Gutemberg, algumas pessoas começam a se informar melhor. Mas a Igreja Católica reage, proibindo livros e criando o Índex (Index Additus Librorum Prohibitorum) para editar regularmente a lista dos livros proibidos. A última edição do Índex foi publicada em 1961.

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA TRÊS

Refúgio Poético

POETA DO MÊS

Antonio Carlos Gomes é médico e trabalha na Prefeitura Municipal de Bertioga, sendo também escritor e poeta. Mora em Guarujá/SP e é um dos mais ativos colaboradores do Humanitas.
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A fita métrica
Madalena Daltro- São Paulo/SP

A fita métrica
mediou
minha medida
pela medida
de quem
nem me viu.
Ou ouviu,
nem eu o vi!
Ou ouvi dizer.
Nem sei quem foi
que deu medida
à fita métrica 
que me mediu.
Assim sou medida
pela medida
da fita criada
por quem 
não conheceu
a minha medida.
......
Os “políticos”
Juareiz Correya – Recife/PE

Os “políticos” todos os dias
ensaiam as mesmas loas
e o homens cantam,
remontam os mesmos figurinos
e os homens copiam,
repetem os mesmos chavões
e os homens aplaudem,
discursam as mesmas louvações
e os homens se encantam,
mantêm as mesmas lutas
e os homens lhes seguem,
recitam as mesmas cartilhas
e os homens publicam,
usam os mesmos métodos
e os homens arrebanham-se,
postulam os mesmos credos
e os homens guerreiam,
revivem a mesma vida
e os homens matam-se.
........................................
CARTAS DOS LEITORES

Mais especial do que o Humanitas? Poucos têm a audácia de ser igual a este pequeno/grande jornal. Ricardo Assis de Lima – Salvador/BA
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Será o novo Typhis Pernambucano do frei Caneca? Silvio Lins de Oliveira – Caruaru/PE
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No Recife temos três grandes jornais. Nenhum deles prega humanismo. Todos manipulam as massas e defendem seus próprios interesses. O Humanitas, muito pelo contrário... Geralda Armênia da Fonseca – Recife/PE
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Vida longa ao Humanitas! Paulo de Souza – Santos/SP

HUMANITAS Nº 48 – JUNHO DE 2016 – PÁGINA DOIS

EDITORIAL

Crítica religiosa não é intolerância religiosa

O Brasil é um Estado Laico tal como determina a sua Constituição.
De acordo com nossa Carta Magna, a religião e a crença de um ser humano não devem ser barreiras às relações humanas.
Todos devem ser respeitados e tratados de maneira igual perante a lei, independente da orientação religiosa.
Importante observar que a crítica religiosa não é igual à intolerância religiosa.
Este Humanitas faz crítica religiosa, pois os direitos de criticar dogmas e encaminhamentos de uma religião são assegurados pelas liberdades de opinião e expressão.
A intolerância não é crítica religiosa. É uma atitude ofensiva. Em casos extremos e radicais é uma perseguição. É um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade dos seres humanos.
A intolerância é marca registrada dos crentes radicais de quaisquer religiões.
É de extrema gravidade, pois costuma se caracterizar pela ofensa, discriminação e até mesmo por atos que atentam contra a vida de um determinado grupo que tem em comum certas crenças.
Criticar uma religião não é ser intolerante. A crítica, bem definida e seguida por este Humanitas é e será feita de modo que não haja desrespeito e ódio a nenhum grupo religioso.
Criticar é um exercício de debate democrático que deve ser exercido e respeitado.
Criticamos as religiões e seus dogmas, mas também condenamos os atos de vandalismo contra os símbolos religiosos, como anda ocorrendo em ações coordenadas por grupos cristãos radicais que atingem e destroem patrimônios das religiões afro-brasileiras.
Os inúmeros ataques às comunidades religiosas de matriz africana no Brasil são criminosos e devem ser julgados como caso de polícia. São contraditórios com a pregação do amor ao próximo e a busca pela paz.
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A glória e o poder do nosso sol
Texto do professor Msc Thomas Henrique de Toledo Stella - São Paulo/SP

Nosso Sol tem 4,5 bilhões de anos e provavelmente viverá mais 4,5 bilhões de anos, quando se transformará numa gigante vermelha e em seu processo de expansão, consumirá Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Depois ele começará a contrair-se e tornar-se-á uma estrela anã branca pelos próximos bilhões de anos.
Por mais que o sol seja 333 mil vezes maior que a Terra, ele é uma estrela de 5ª grandeza, pois existem no universo outros sóis milhares ou mesmo milhões de vezes maior que ele.
Tais sóis, devido à sua massa e tamanho, são capazes de gerar reações no interior de seu núcleo de modo que quando chegar ao seu ponto máximo, eles se explodirão numa super-nova e converter-se-ão em um buraco negro, capaz de engolir toda luz ao redor em seu horizonte de eventos que hoje a física não é capaz de explicar.
No centro de nossa galáxia, onde orbita nosso sistema solar, está um buraco negro que os maias chamavam de Hunab Ku.
Em nosso sistema solar o Sol reina como o senhor soberano e em seu processo de fusão nuclear cria a energia que regenera e alimenta todos os seres vivos de nosso planeta.
Se existe um Deus que todos vemos e que podemos afirmar com precisão científica que todos somos filhos, seu nome é Sol ou Kinish Ahau para os maias, Rá para os egípcios, Apolo para os gregos, Helius para os romanos, Inti para os incas e tantos outros nomes.
Se o Sol é nosso pai, a Terra é nossa mãe, pois todos fomos gestados em seu ventre e nos nutrimos daquilo que nela é gerado. 
Eis o resumo do paganismo universal: somos filhos do Sol e da Terra, com as bênçãos da Lua, permeados pelos mais belos mitos que ensaiam dramas psicológicos profundos, capazes de explicar a razão de nossa existência pela riqueza literária.
Enquanto as religiões dogmáticas ficam brigando com a ciência por doutrinas, com o paganismo tudo é fácil e visível.
Basta agradecer, honrar e respeitar os astros e nosso planeta, reconhecendo-se como filho do Cosmos. Já pensaram que ética maravilhosa deriva disto?

sábado, 21 de maio de 2016

HUMANITAS Nº 48 - JUNHO 2016 - PRIMEIRA PÁGINA

A INTOLERÂNCIA É A MARCA DA IDIOTICE
Texto de Pedro Rodrigues Arcanjo nas páginas 4 e 5
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UMA MULHER PIONEIRA
Texto de Juarez Pedrossiano Goitá na página 8
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Na página 7 o artista plástico e pesquisador autodidata Ivani Medina analisa o islamismo e salienta que o islã não é um abraço de vida, mas um abraço de morte.
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Na página 2, o professor  Thomas de Toledo disserta sobre a glória do sol.
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VIOLÊNCIA RELIGIOSA

Na página 6, a professora soteropolitana, Sarita Cordeiro, mostra o quanto a violência contra as religiões de matriz africana está crescendo em todo o país, sem que posições de contenção sejam tomadas pelas autoridades constituídas.