segunda-feira, 2 de outubro de 2017

HUMANITAS Nº 64 – OUTUBRO DE 2017 – PÁGINA 2



EDITORIAL
A urgência da luta

Há cem anos, na Rússia, uma revolução proletária derrubou uma monarquia czarista que massacrava o povo. Hoje, muito pior do que aquela monarquia (pois estamos em pleno século XXI) um governo ilegítimo postado no Planalto Central escandaliza o mundo ao criar no Brasil uma crise econômica, política e moral.
A Revolução Russa derrubou um regime déspota. Regime que levava aquele país ao atraso, explorando o povo e enriquecendo um monarca e seus cortesãos. Hoje, no Brasil, com o apoio de uma mídia tendenciosa, milhares de brasileiros estão a ser massacrados, voltando a encarar a fome e a miséria, obrigados a isso pelos poderes constituídos de uma República em total decadência.
Neste outubro em que são marcados os 100 anos da Revolução Russa - em um século onde a tecnologia e o desenvolvimento se propagam a olhos vistos - nosso país é encaminhado para a barbárie e ao atraso por seus governantes.
Torna-se urgente a necessidade de mudar esse quadro. E essa mudança só pode acontecer com o apoio do povo brasileiro.
Torna-se urgente a necessidade de lutar pela derrubada desse governo ilegítimo e de todos os seus representantes.
Tudo está corrompido. A começar pelo poder Executivo, passando pelo Legislativo e Judiciário.
Nenhum desses poderes possui legitimidade para representar o povo brasileiro.
Nenhum desses poderes luta pelo bem-estar do povo brasileiro.
Todos esses poderes estão acumpliciados com uma elite que só faz olhar para o próprio umbigo e nunca para a necessidade popular.
Não podemos abaixar a cabeça e aceitar que um ganancioso grupelho refestelado na Presidência, no Congresso e no Judiciário dite nossas ações como se fôssemos gado pronto para o matadouro.
Já foi provado que outro Brasil é possível. O homem comum tem de ir para as ruas, acreditando na própria força e na urgência da luta.

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Trovões 
Conto de Rafael Rocha – Recife/PE
Editor do Humanitas 

O que se tem de fazer? O homem pensava. A noite estava esquisita do lado de fora do casebre. Lampejos desvairados de dor nas têmporas. A chuva fazia a lama entrar pelas frestas de madeira da casa. A barriga revirava com vários roucos de fome. A luz do candeeiro bruxuleava.
No canto a mulher tinha elevado a cama sobre vários tijolos para não ser alcançada pela lama. E dormia abraçada com a menina. Do outro lado, o menino enrodilhado entre as pernas da mãe. Mexeu-se. Puxou um lençol rasgado por cima. O corpinho de doze anos estremeceu vestido com a camisa do time de futebol do coração.
O que se tem de fazer? O homem olha ao redor. Coça a barba hirta. A fome não o faz pensar bem. Enfia a mão no bolso da camisa e de lá retira uma garrafa de cachaça. Bebe um gole. Fica mais quente. A dor nas têmporas aumenta e ele tem vontade de gritar. Morde os lábios até o sangue escorrer.
E por que é mais fácil ter uma arma e balas de chumbo no cilindro? Por que é tão fácil? Mais fácil ter isso do que um pão ou um pedaço de carne. Levanta-se. Vai até o fogão enferrujado. Uma panela com um resto de sopa de legumes. Enche uma caneca. Bebe. Que merda!
O que se tem de fazer? Um relâmpago traz o estrondo do trovão. A chuva aumenta. Ele pensa em dormir, mas a dor nas têmporas anda a abater seu sono. Olha a mulher na cama. Que fizemos? O que fiz? A cabeça da mulher utiliza uma bíblia como travesseiro. Ele fica irritado. Ah, que Deus de merda é esse que nos faz isso?
A dor nas têmporas aumenta. Ele começa a perder o entendimento de si. Olha para os lados. A luz bruxuleante do candeeiro faz o casebre parecer uma gruta de abrigar animais. A mulher gira o corpo e faz a bíblia cair na lama no chão. Que vá à merda! Quase que ele grita.
Faz outra dose de cachaça deslizar pela garganta. O que se tem de fazer? Sente que tem de fazer o óbvio. Nada existe para ir adiante. Nenhum caminho se abre com sol. Nenhum futuro. É tudo escuro e chuvoso. É tudo fome. É tudo sem constância. Do bolso da calça tira um pacote e põe na mesa.
O que se tem de fazer? Tudo que for preciso para sair deste espaço de merda, diz para si mesmo. Um revólver calibre 38 agora nas mãos. O cilindro com as seis balas. É tão fácil ter uma arma e é tão difícil ter um pão!.. Vai até a cama. A mulher recebe o tiro nas têmporas. Depois mais dois tiros. Um no menino e outro na menina.
Quando o relâmpago traz o poderoso trovão, o tiro que ele dá em si mesmo é abafado pelo clamor da tempestade.

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