sábado, 30 de dezembro de 2017

HUMANITAS Nº 67 – JANEIRO DE 2018 –PÁGINA 8

A primeira presa política da História do Brasil

Especial do Humanitas

Bárbara Pereira de Alencar nasceu em Exu/Pernambuco, em 11 de fevereiro de 1760.
Mais conhecida por ser avó do escritor José de Alencar, Bárbara deixou imagens marcantes para as novas gerações, por ser revolucionária, política, e empreendedora.
Destacou-se em várias frentes e em todas há um ponto comum: a entrada feminina em campos dedicados somente aos homens durante o século XVIII, diz a pesquisadora Kelyane Silva de Sousa, em tese de mestrado.
Sobre o legado da revolucionária,  a pesquisadora salienta que “não era um papel secundário. Ela foi articuladora e, inclusive, escrevia os discursos para filhos e tios falarem em público”.
Bárbara ainda assumiu protagonismo na Revolução Pernambucana (1817) e na Confederação do Equador (1824).
Três de seus cinco filhos – José Martiniano de Pereira Alencar, Carlos de Alencar e Tristão Gonçalves – também foram revolucionários (o primeiro era padre, político e jornalista, e foi o pai do romancista José de Alencar).
Bárbara mudou-se para a vila do Crato, no Ceará, onde se estabeleceu e tornou-se matriarca de uma família, numa época onde a vida da mulher era restrita a criar filhos e o patriarcado se impunha de modo rigoroso.
Casou, aos 22 anos, com o comerciante português José Gonçalves dos Santos. Ela própria fez o pedido de casamento. No Crato, em meados de 1815, criou em sua casa o núcleo do movimento revolucionário que se organizava em Pernambuco.
De acordo com o escritor Roberto Gaspar, autor do livro Bárbara de Alencar, a Guerreira do Brasil”, “Dona Bárbara sempre foi considerada a cabeça pensante. Ela tinha a política nas veias e, na articulação, era a referência do grupo”.
Quando estourou a Revolução Pernambucana, em 1817, ela, junto com seu filho José Martiniano, durante a missa dominical, proclamou a república tal como se fizera no Recife.
As tropas da coroa portuguesa foram enviadas para conter a revolta, prenderam todos, enviando-os a pé até a cidade de Fortaleza sob o sol escaldante, num percurso de 600 km, cuja viagem durou um mês.
Em 1821, Bárbara foi libertada, mas não deixou de lado o sonho de ver o Brasil livre do domínio português. Em 1824, o movimento revolucionário que aconteceu no Recife, a “Confederação do Equador”, liderado por Frei Caneca, espalhou-se pelo Nordeste e encontrou Bárbara e seus filhos prontos para a nova revolta. Dois de seus filhos, Carlos de Alencar e Tristão Gonçalves morreram em combate.
O sobrenome Alencar foi perseguido pelo poder constituído durante muitos anos após a Confederação do Equador. Algumas pessoas com este sobrenome, mesmo sem participação na vida política do país, acabaram virando mártires.
Conta-se que pelo menos 13 parentes, por consanguinidade e afinidade, foram assassinados. Quando seu filho José Martiniano foi eleito senador do Império, em 1832, o imperador Dom Pedro II vetou seu nome. Mesmo já tendo sido ministro da Justiça, o imperador temia o sangue revolucionário que corria nas veias da Família Alencar”.
Bárbara de Alencar foi a primeira revolucionária e primeira presa política da História do Brasil. Hoje quando o feminismo avança no País, ela ainda não é reconhecida como heroína da nossa História. Falecida em 18 de agosto de 1832, apenas no Ceará seu nome é reconhecido e lembrado no imaginário popular.
O cantor Luiz Gonzaga, também nascido em Exu, antes do início de seus shows pela região do Cariri, gostava de saudar “Dona Bárbara de Alencar”. Em Fortaleza, a partir de 11 de fevereiro de 2005, o Centro Cultural que leva seu nome agracia três mulheres com a “Medalha Bárbara de Alencar”, uma respeitável condecoração. O Centro Administrativo do Governo do Ceará é batizado com seu nome. Uma estátua da heroína foi erguida na Praça Medianeira, Fortaleza/CE.

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