domingo, 29 de abril de 2018

HUMANITAS Nº 71 – MAIO DE 2018 – PÁGINA 4

TRABALHAR ENOBRECE O HOMEM?
Especial do Humanitas

Em todos os recantos do mundo, no dia 1º de maio, é comemorado o Dia do Trabalho, ou mais especificamente, o Dia do Trabalhador.
Será que realmente existe algo para festejar?
A máxima mais antiga sustentada pelas elites dominantes é a de que o trabalho enobrece o homem. Essa deve ter sido a primeira campanha de publicidade feita pela mídia.
Seu objetivo primordial era o de fazer as pessoas comprarem a ideia de trabalhar para enobrecer a própria vida, quando na verdade serve para enriquecer os patrões.
A palavra trabalho vem do latim tripalium”, que significa castigo. E é bem pertinente, pois muitas pessoas consideram o trabalho uma verdadeira tortura diária. O “tripalium” do latim era uma espécie de estaca fincada no chão e que servia de tronco para o castigo dos escravos da Idade Média.
No latim clássico, a principal palavra que designava trabalho era “labor”. Antes de tudo, significava apenas fadiga que advém do trabalho.
Com o tempo, a parte passou a representar o todo. Em sentido figurado, era usado para doença, desgraça e dor. Em grego, a palavra mais próxima de trabalho era “pónos”.
O significado: pena, sofrimento, fadiga.
Em japonês, “arubaito” se referia apenas a trabalho temporário. Mais tarde, os “dekasseguis”, ou estrangeiros que foram trabalhar no Japão, associaram a palavra a três K: “kitsui” (penoso), “kitanai” (sujo) e “kiken” (perigoso).
Em alemão, o vocábulo a designar trabalho é “arbeit”, que tem relação com um antigo verbo germânico que designava as pesadas atividades físicas que as crianças órfãs tinham de fazer para sobreviver.
Ao longo do tempo parece que poucas mudanças aconteceram. Aqueles que detinham mais poder acabaram forçando outras pessoas, principalmente as menos favorecidas, a realizarem o trabalho mais pesado.
Dessa forma, o trabalho não era visto como algo digno, ficando relegado àqueles considerados inferiores na sociedade.
Foi Martinho Lutero, com a reforma religiosa ou criação do protestantismo, que retirou do termo trabalho as conotações pejorativas, dando-lhe um significado positivo e útil. Segundo ele, “o trabalho constitui, antes de mais nada, a própria finalidade da vida.”
Ele entendia a ética do trabalho como uma obra altamente moral, que servia para melhorar a qualidade de vida da pessoa e transformar a sociedade.
A partir de Lutero, o trabalho tornou-se um dever que beneficiava indivíduo e sociedade como um todo.
No entanto, de acordo com Karl Marx, no sistema atual o trabalhador produz bens que não lhe pertencem e cujo destino, depois de prontos, escapa ao seu controle.
O trabalhador, assim, não pode se reconhecer no produto de seu trabalho; não há a percepção daquilo que ele criou como fruto de suas capacidades físicas e mentais, pois se trata de algo que ao trabalhador não terá utilidade alguma.
A criação (o produto) se apresenta diante do mesmo como algo estranho, e não como o resultado normal de sua atividade e do seu poder de modificar livremente a natureza.
Assim sendo, se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador e de certa forma, o trabalhador se defronta com o mesmo de uma forma estranha, isso somente ocorre porque tal produto pertence a outro homem que não é o trabalhador.
Em termos simples quem se apropria da maior parte do fruto e do trabalho operário? Marx responde: O capitalista! O proprietário dos meios de produção!”
Eis o que diz Marx: “O trabalhador só é ele próprio quando não trabalha. No seu trabalho sente-se fora de si próprio. O seu trabalho não é voluntário, mas forçado. Não é a satisfação de uma necessidade, mas somente uma forma de gratificar a necessidade de outrem”.
Trabalho significa acumulação de capital pelo patrão. É a organização do poder de classe, a estrutura da sociedade capitalista moderna.
Segundo o economista e político português Francisco Louçã, “a enorme expansão do trabalho ao longo destes dois séculos é subjugada pelo crescimento do mundo das mercadorias, ou porque é que o trabalho, que tudo produz, ainda é nada”. 
   O que o trabalhador festeja então nessa data?

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